segunda-feira, 9 de março de 2015

Dominós tombados

A abertura é fantástica com o conto que dá título ao livro - e que título, deve dizer-se! Intrigante e sugestivo, o título desemboca num conto de todo inesperado.
Um relato de disputa entre o conformismo de quem vai tentando seguir adiantes com a sua vida e de quem continua determinado em recuperar o que ela outrora foi.
Jogada no ritmo de um jogo de dominó entre cubanos e dominicanos, todos estabelecidos em Miami sendo ainda vistos como atracção exótica pelos turistas mas já fazendo parte do colorido local.
Um dos cubanos conta piadas velhas tentando fazer delas novidade e o outro aceita-as ou interrompe-as conforme a sua paciência é maior ou menor nesse dia.
Porque há dias em que querem que Cuba sejam uma memória distante e outros em que querem ardentemente recuperar a sua terra.
A sua identidade está por definir assim dividida entre o local de onde vieram e o local onde chegaram que são, como é óbvio, o local que nunca deixaram por completo e o lugar que não conseguem integrar por completo.
São Cubanos a quem escapa a pátria e a quem escapa que a sua dor não pode ser transmitida com facilidade.
Os dominicanos riem por simpatia e não por afinidade e entre eles tentam controlar a dimensão do riso, pois naquelas piadas há uma tristeza que desconhecem.
Ana Menéndez trabalha este conto de forma exímia, cheio de ritmo e controlo que o tornam numa jogada de abertura brilhante.
O problema é o encaixe das peças seguintes, contos tenuamente ligados entre si e a este outro, que se vão esgotando numa repetição temática que parece ser a dos problemas domésticos que assombram uma cubana de segunda geração em Miami.
Ou, se preferirmos, os problemas que foram os da autora enquanto crescia. A obsessão com a estranheza de relacionamento de casais parece ser uma purga psicológica por parte da autora.
A sua escrita controlada vai dando lugar a uma forma anódina de relato que ela consegue desequilibrar com um excesso de fantasismo que poucas vezes se ajusta
O resto dos contos do livro parecem existir para contrariar a ideia que o primeiro dá tornando pouco cativante loucuras momentâneas como a de uma maratona de cozinhar bananas em todas as receitas possíveis.
Do lance de abertura até ao fecho do jogo o interesse vai-nos escapando e é penosa a forma como nos obrigamos a terminar o livro.


Em Cuba eu era um pastor-alemão (Ana Menéndez)
Ambar
1ª edição - Maio de 2003
224 páginas

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