Já mais do que uma vez li provas de que um pequeno texto pode conter a grandeza de um mundo ou de um espaço devotado à imaginação completiva do leitor.
Ou, como neste caso, de ambos.
A Raposa Azul preenche-se com a dicotomia do Mundo que só se une verdadeiramente na Arte.
Expõe a realidade por oposição à sua construção de um conto de fadas. Deixa que a crueldade humana venha ao de cima nos mesmos lugares que lhes dão a visão do maravilhoso. Eleva o poder da decisão individual mesmo que ao mesmo tempo veja a vingança da Natureza acontecer sem oposição possível.
Veja-se que se trata de um conto histórico que fala de um tema que só costuma ter repercussões em romances situados na actualidade, o Síndrome de Down. Mas torna-o num aspecto de emergente milagre.
A magia de uma linguagem, de um rosto e de uma origem que são únicos e que, mesmo explicados, não eliminam por completo a possibilidade da rapariga que sofre desde nascença seja filha de maravilhas desconhecidas aos básicos sentidos humanos.
Não se trata de um livro do Fantástico, mas de um livro que insufla o real de possibilidades. Que dá espaço para se continuar a renegar as explicações para abraçar as hipóteses.
Até porque há dureza no interior deste mundo mas sempre tocada por uma beleza de linguagem admirável.
Linguagem essa que tem poesia dentro - acredito que a tradução merece destaque, mesmo que não seja perfeitamente fiel ao original (arriscaria dizer que a tradutora não conhecerá Islandês), pois tem o poder linguístico que fascina na nossa própria Língua - sem deixar de ser objectiva para com a história. Assim, é a própria escrita que faz o texto suplantar a realidade que se lê.
Falei no início de um espaço para a imaginação, espaço que reforça tudo o que disse até agora.
O livro, não só por ser breve, mas por na sua brevidade estar repleto de parágrafos isolados, descontinuações temporais e mudanças de vozes, tem muito a dar ao leitor que quer reflectir e construir a sua própria intimidade com o livro e não tem necessidade que lhe sirvam a exposição completa de tudo o que a história guarda no seu interior.
(Só não se entenda com isto que a forma se sobrepõe ao restante.)
Julgo que encontrei aqui, não só um belíssimo livro, mas um dos livros que melhor incorpora o mote que, já há um pouco mais de dois anos, escolhi para este blogue.
Ou, como neste caso, de ambos.
A Raposa Azul preenche-se com a dicotomia do Mundo que só se une verdadeiramente na Arte.
Expõe a realidade por oposição à sua construção de um conto de fadas. Deixa que a crueldade humana venha ao de cima nos mesmos lugares que lhes dão a visão do maravilhoso. Eleva o poder da decisão individual mesmo que ao mesmo tempo veja a vingança da Natureza acontecer sem oposição possível.
Veja-se que se trata de um conto histórico que fala de um tema que só costuma ter repercussões em romances situados na actualidade, o Síndrome de Down. Mas torna-o num aspecto de emergente milagre.
A magia de uma linguagem, de um rosto e de uma origem que são únicos e que, mesmo explicados, não eliminam por completo a possibilidade da rapariga que sofre desde nascença seja filha de maravilhas desconhecidas aos básicos sentidos humanos.
Não se trata de um livro do Fantástico, mas de um livro que insufla o real de possibilidades. Que dá espaço para se continuar a renegar as explicações para abraçar as hipóteses.
Até porque há dureza no interior deste mundo mas sempre tocada por uma beleza de linguagem admirável.
Linguagem essa que tem poesia dentro - acredito que a tradução merece destaque, mesmo que não seja perfeitamente fiel ao original (arriscaria dizer que a tradutora não conhecerá Islandês), pois tem o poder linguístico que fascina na nossa própria Língua - sem deixar de ser objectiva para com a história. Assim, é a própria escrita que faz o texto suplantar a realidade que se lê.
Falei no início de um espaço para a imaginação, espaço que reforça tudo o que disse até agora.
O livro, não só por ser breve, mas por na sua brevidade estar repleto de parágrafos isolados, descontinuações temporais e mudanças de vozes, tem muito a dar ao leitor que quer reflectir e construir a sua própria intimidade com o livro e não tem necessidade que lhe sirvam a exposição completa de tudo o que a história guarda no seu interior.
(Só não se entenda com isto que a forma se sobrepõe ao restante.)
Julgo que encontrei aqui, não só um belíssimo livro, mas um dos livros que melhor incorpora o mote que, já há um pouco mais de dois anos, escolhi para este blogue.
A Raposa Azul (Sjón)
Cavalo de Ferro
1ª edição - Fevereiro de 2010Cavalo de Ferro
112 páginas
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