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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Universos à espreita

Esta pequena colectânea tem quase um ano, mas o seu objectivo não sofre com o tempo que passa.
A divulgação dos autores da casa que a publica funcionará mais cedo ou mais tarde, se bem que na sua maioria estes são autores já largamente divulgados e, para a maioria dos compradores do Jornal de Letras, autores já lidos.
Admite-se, portanto, que a selecção é feita de contos breves que equilibrem a ausência de uma vertente comercial com um interesse literário que não seja negligenciável.
Nem por isso as expectativas devem diminuir. Pelo contrário, quem fez a selecção de contos conseguiu transmitir uma ideia de comunhão entre os autores.
Comunhão pelo que alcançam em poucas (às vezes pouquíssimas) páginas e que é a criação de eventos bem definidos com um universo a expandir-se para lá deles, ou seja, contos que nos deixam no ponto de reconhecimento da realidade que está logo por detrás deles sem que essa percepção dos bastidores impeça que o está no texto funcione por si só.
A fruição não é impedida pela eventual falta de vontade ou de imaginação de um leitor, mas talvez seja aumentada por essa perspectiva do que fica por dizer.

Vale a pena falar um pouco das tais descobertas que este livro permite, mais do que da mera readmiração de nomes já conhecidos.
Até porque são tantos os nomes a que dediquei pouca atenção como aqueles que conheço bem.
José Mário Silva suscitou interesse para ler mais com o seu Atendedor de Chamadas. Acima de tudo, pela brilhante forma de execução de que se lembrou dando a conhecer o universo em torno de uma personagem através das mensagens que recebe e ficam por responder. Ajuda também a aguçar o interesse que o seu conto nos deixe no limite da frustração à conta da falta de conhecimento sobre os motivos para a ausência de quem é, no fundo, o protagonista.
José Eduardo Agualusa, um autor que sempre me deixou desconfiado por algum motivo que a leitura das suas crónicas domingueiras na Pública não esclarece, traz um interessante toque de humanismo bilateral a um cenário a ferro e fogo que reconhecemos sem reconhecer a sério.
Fúria de Patrícia reis surpreendeu também por uma certa coragem com que retrata a mulher portuguesa e as lutas que tem de vencer em silêncio. A forma como aborda o conto torna a tensão - toda no interior da mente da mulher ao olhar o marido adormecido no sofá – palpável e o resultado surpreendente ou inevitável consoante o grau de pessimismo com que o olhemos mas, mesmo assim, um resultado que é uma vitória.
Os outros oito contos são igualmente bons mas como estamos no campo da descoberta, aqui deixo as que fiz e cada outro leitor poderá falar das suas.


Leya Contos (José Eduardo Agualusa, Manuel Alegre, Fernando Pinto do Amaral, Dulce Maria Cardoso, Mário de Carvalho, Mia Couto, Ondjaki, Inês Pedrosa, Patrícia Reis, Urbano Tavares Rodrigues, José Mário Silva)
Leya
Sem indicação da edição - Março de 2010
64 páginas