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sábado, 24 de julho de 2010

À espera de mais

O apreço de Sedaris, desta vez, dirige-se aos seus países de eleição e aos "bons velhos tempos".
Como sempre, é emoção e saudade revelada de forma velada. Se há vergonha em falar da vida privada ou se há incómodo de quem está no lugar do receptor, nada mais simples do que acrescentar uma pitada de humor. Claro que a parte menos simples é acertar com esse humor para que torne as histórias interessantes e não ridículas, para que todos os leitores se possam identificar e regozijar com tais histórias.
Se o humor de Sedaris é certeiro, é o seu desavergonhamento que nos causa estranheza.
Um diário de um fumador a tentar desistir deveria ser um de dois, ou uma recolha de vitórias moralizantes ou de derrotas avisadoras. Um diário que fosse um manual de ajuda.
Numa sociedade que entregou a sua privacidade de boa vontade, David Sedaris ainda consegue fazer da privacidade um caso de transformação da visão que se tem do mundo.
Não se sai incólume destas crónicas, relativiza-se a perspectiva dos acontecimentos e a ideia de trauma que delas sobressai. E ainda assim isso sucede enquanto nos rimos sem o tentar controlar.
Fico à espera que Sedaris ainda não tenha deixado de chocar com histórias como estas e que ainda tenha muitas crónicas para serem compiladas em livro pois não tem sido norma encontrar escritores que façam o que ele faz com tanto talento.



















Diário de um fumador (David Sedaris)
Contraponto
1ª edição - Setembro de 2009
256 páginas

Humor sentimental

Se a imitação é a mais sincera forma de lisonja, talvez a humilhação seja a mais sincera forma de apreço.
David Sedaris expõe-se primeiro a si próprio e logo depois à sua família à gargalhada pública. Todos os episódios, não apenas os naturalmente ridículos mas até aqueles que pareceriam merecer apenas um sorriso momentâneo, são utilizados em função do humor. O que os torna interessantes e divertidos não é apenas o contexto ou as acções que neles decorrem mas a forma como Sedaris os encara.
Trata-se de olhar para os eventos com um bloco na mão acompanhado a imaginação de uma criança: é preciso tomar nota do que sucedeu, tê-lo bem presente, para depois partir para os pequenos devaneios que extrapolam a realidade para o campo da piada.
David Sedaris escreve-nos o seu ponto de vista dos eventos, um ponto de vista originalíssimo. Se não fosse não teria interesse. Qualquer cronista conseguiria fazer humor com o caricato, ele fá-lo com o comum.
Poderá parecer que a sua família sai mal tratada deste livro, mas eu discordo. A mim parece-me apenas uma família com o habitual conjunto de personagens que o "teatro da vida" convoca.
Parece-me antes que a família de Sedaris sai homenageada pela emoção que ele tenta encobrir no humor mais afiado - uma atitude típica de homem na sociedade, talvez.
É saudade o que ele tem de um tempo em que a família representava um contexto social e emocional mais rico, de um tempo em que o núcleo de uma casa podia degladiar-se no interior mas se defendia do exterior, de um tempo em que se dependia e defendia o sangue comum.
O humor de Sedaris é fortíssimo, daquele que prolonga a gargalhada tanto tempo que parece que se está a chorar a rir. Mas o riso pode estar apenas a disfarçar as lágrimas de genuína emoção.


















Álbum de Família (David Sedaris)
Contraponto
1ª edição - Junho de 2010
200 páginas