Craig Russell conseguiu o que muitos autores têm tentado mas raramente conseguido.
Refiro-me a reinventar o noir mantendo o foco essencial na personagem central e criando repercussões maiores relativas ao mundo como o conhecemos hoje.
Ou seja, em vez de criar mais um thriller rebuscado e de conclusões discutíveis, Craig Russell criou um noir de traços clássicos que toca temas de fundo actuais.
Parte tudo da construção de uma personagem feroz e inesquecível, vagabundeando na fronteira dúbia onde o carácter e a lealdade tendem a ganhar mais importância à medida que as escolhas genéricas de Bem e Mal deixam de ser possíveis.
Com esta criação ficam garatidos os leitores, interessados numa personagem que se destaca da página e ganha forma, vida e se torna num ídolo.
A sua voz enquanto narrador revela bem o grau profundo das interrogações que lhe queimam a alma no pós-guerra.
Homem atormentado mas muito inteligente, capaz de se vender mas protector da relíquia que é a sua integridade num mundo que se libertou de restrições depois da Guerra.
A sua existência não tem mais pureza e, no entanto, não é possível censurá-lo pelas suas decisões.
Lennox é o desejo secreto do que gostaríamos de ter sido noutra vida e noutro lugar, com o mesmo grau de dureza emergente e vulnerabilidade escondida.
Como outros grandes personagens do mundo do crime, de um lado e do outro da arma (mais do que da Lei), são os heróis de gente que deixou de ver o mundo a preto e branco.
Craig Russell traça o mais rigoroso ambiente do género que Dashiell Hammett e Raymond Chandler tornaram em grande literatura, porque soube igualmente escolher um cenário idílico para as suas personagens.
Uma Glasgow cinzenta, carregada de smog, nada convidativa. Russell só lhe reforça a atmosfera com a sua qualidade de escrita.
Uma cidade que aprendeu a aproveitar-se do homem para não ver os actos violentos que o próprio homem irá cometer no seu coração. O negro do carvão criando uma cegueira intransponível para o negro da alma humana.
Neste ambiente, na década que se seguiu à II Guerra Mundial, Russell pode colher o melhor do mundo que estava prestes a desaparecer arrancado das mãos dos gangsters que se tornavam ilustres. E pode partir em busca dos temas que definiram o mundo no restante do século XX.
O ponto de viragem, tanto temporal como físico, em que se transita do que foi para o que será, mas onde ainda demorará a esgotar-se a necessidade de um homem como Lennox.
O noir assim é melhor do que alguma vez será o thriller. Simplesmente porque depende da escrita e não do truque, da personagem e dos ambientes e não da inesperada reviravolta que está sempre em risco de ser descoberta.
Refiro-me a reinventar o noir mantendo o foco essencial na personagem central e criando repercussões maiores relativas ao mundo como o conhecemos hoje.
Ou seja, em vez de criar mais um thriller rebuscado e de conclusões discutíveis, Craig Russell criou um noir de traços clássicos que toca temas de fundo actuais.
Parte tudo da construção de uma personagem feroz e inesquecível, vagabundeando na fronteira dúbia onde o carácter e a lealdade tendem a ganhar mais importância à medida que as escolhas genéricas de Bem e Mal deixam de ser possíveis.
Com esta criação ficam garatidos os leitores, interessados numa personagem que se destaca da página e ganha forma, vida e se torna num ídolo.
A sua voz enquanto narrador revela bem o grau profundo das interrogações que lhe queimam a alma no pós-guerra.
Homem atormentado mas muito inteligente, capaz de se vender mas protector da relíquia que é a sua integridade num mundo que se libertou de restrições depois da Guerra.
A sua existência não tem mais pureza e, no entanto, não é possível censurá-lo pelas suas decisões.
Lennox é o desejo secreto do que gostaríamos de ter sido noutra vida e noutro lugar, com o mesmo grau de dureza emergente e vulnerabilidade escondida.
Como outros grandes personagens do mundo do crime, de um lado e do outro da arma (mais do que da Lei), são os heróis de gente que deixou de ver o mundo a preto e branco.
Craig Russell traça o mais rigoroso ambiente do género que Dashiell Hammett e Raymond Chandler tornaram em grande literatura, porque soube igualmente escolher um cenário idílico para as suas personagens.
Uma Glasgow cinzenta, carregada de smog, nada convidativa. Russell só lhe reforça a atmosfera com a sua qualidade de escrita.
Uma cidade que aprendeu a aproveitar-se do homem para não ver os actos violentos que o próprio homem irá cometer no seu coração. O negro do carvão criando uma cegueira intransponível para o negro da alma humana.
Neste ambiente, na década que se seguiu à II Guerra Mundial, Russell pode colher o melhor do mundo que estava prestes a desaparecer arrancado das mãos dos gangsters que se tornavam ilustres. E pode partir em busca dos temas que definiram o mundo no restante do século XX.
O ponto de viragem, tanto temporal como físico, em que se transita do que foi para o que será, mas onde ainda demorará a esgotar-se a necessidade de um homem como Lennox.
O noir assim é melhor do que alguma vez será o thriller. Simplesmente porque depende da escrita e não do truque, da personagem e dos ambientes e não da inesperada reviravolta que está sempre em risco de ser descoberta.
Lennox (Craig Russell)
Guerra & Paz
1ª edição - Novembro de 2010Guerra & Paz
344 páginas
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