As memórias não se alinham, não se orientam num friso cronológico, tropeçam umas nas outras, avançam aos repelões e voltam atrás como se nada fosse.
Esta é um livro de memórias assim, em episódios. Cada um uma pequena historieta que poderia ser guardada para uma noite no seio da família.
Memórias poéticas e preenchidas por poesia. Memórias plenas de vida e criação, de acção e poesia.
Não importa se são verdadeiras ou se são, mesmo que apenas em parte, criação. São belas, nada mais, e como tal importa apreciá-las.
Importa acompanhar este miúdo que pregava pregos numa tábua e saber onde chegou, saber como os episódios que viveu e quer recordar o tornam numa personagem inteira.
Seja essa personagem o próprio autor ou apenas uma projecção.
Como Manuel Alegre frisa no seu livro, os mistérios não se explicam. Preservam-se como prazer de voltar a ler um livro que não tem de ser uma descoberta sobre quem escreve.
Se isto é confissão ou criação, isso é uma decisão para o leitor. Uma questão que é a delícia do leitor, que pode percorrer o livro uma e outra vez buscando descobertas e entendimentos, sempre apreciando a bela escrita.
O miúdo que pregava pregos numa tábua (Manuel Alegre)
Dom Quixote
1ª edição - Março de 2010
112 páginas
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