sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Envolvido com um tema alheio

A conclusão pode ser precipitada ao fim de uma segundo livro lido, mas Stephen Booth gosta de tratar de temas que falem directamente à identidade britânica, sublinhando o confronto da tradição com a mais recente orientação social.
Se no livro anterior era a maneira como o papel do polícia era encarado pela população, aqui é a reacção moderna ao tipo de relação que o país mantem com os animais falando simultanea e harmoniosamente sobre as restrições à caça de raposas e o novo mercado gastronómico que se forma para a carne de cavalo.
Podem parecer temas difíceis de interessar facilmente o leitor português, mas usadas como são tornam a leitura surpreendente e eficaz seja para quem for.
Durante cerca de metade do livro, as considerações sobre estes temas e como eles terão sido causa do homicídio investigado não deixa notar o quanto a investigação está estagnada.
Estamos embrenhados em suspeitas, preconceitos ideológicos que a própria detective Diane Fry expressa e que nos levam a desconfiar das intenções dos mais variados envolvidos apesar de Ben Cooper vir em defesa argumentativa da elevação do comportamente da classe envolvida na caça à raposa.
Não quer isto dizer que o carácter de todos os envolvidos seja impoluto, nem mesmo do lado dos que se opõem às caçadas.
Isso só leva a que as investigações devam ser mais abrangentes, mas as próprias condições do trabalho de polícia - limitado pelos meios e pelas ideias - é que as afunilam.
Se o leitor é levado a focar-se num único aspecto ou numa única hipótese, é porque é assim que vai a investigação.
Ninguém consegue escapar às suas próprias crenças sobre a realidade que o rodeia nem à maneira mais clássica de interpretar os dados disponíveis, que é correlacioná-los.
Afinal de contas, certamente que na maioria das vezes a resposta mais óbvia é a correcta. No entanto qual a resposta mais óbvia é que o pode estar em causa.
As coincidências também acontecem e os elementos presentes no local do crime só circunstancialmente apontam em exclusivo para os caçadores que por ali perto se encontravam.
A pressão dos resultados afecta a própria polícia de uma forma que, apesar de tudo não leva a consequência gravosas como a condenação de inocentes, mas atrasa a concretização da justiça.
Stephen Booth só cometeu um erro nesta sua estratégia, a inclusão de vários capítulos de um diário de 1968 que teimam em fazer o leitor desconfiar das respostas que se buscam no presente.
Ainda assim, a maneira como a verdade sobre o crime original e as suas consequências surge surpreende os próprios detectives e, ligados a eles, os leitores.
O que eles tiveram de conseguir foi compreender a importância dos detalhes e pensar "fora da caixa" para conseguirem voltar à base estrutural de uma investigação que a torna única e independente dos sinais excessivos que contaminam as provas.
O policial está construído de forma muito sólida de forma a manipular o leitor e depois a servir-lhe um classicismo detectivesco que é sempre um prazer de acompanhar.
Tudo isto em torno de um tema que não diz nada (pelo menos na forma muito particularizada como se apresenta) aos portugueses mas que os envolve mesmo assim.


O Toque da Morte (Stephen Booth)
Publicações Europa-América
Sem indicação da edição - Agosto de 2010
356 páginas

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A boa prática de baralhar expectativas

Ao fim de três livros é inevitável começar a compreender que Mo Hayder tem uma linha contínua para servir os seus progressos literários em torno de Jack Caffery e Flea Marley que se foca no romance atribulado que se vai desenvolvendo entre ambos.
Essa leva a que as suas presenças tenham sempre de surgir em paralelo o que leva a que passem o tempo separados – como no livro anterior – ou que a investigação acabe sempre por envolver um passo que recorra à especificidade do trabalho de Flea.
Torna-se pois num traço essencial que percorre a série de livros da autora, mas também um traço de apoio em cada livro que desaparece à medida que outros são inscritos em torno dele.
Nessa tarefa, está a verdadeira qualidade de Mo Hayder que cria estruturas ricas – e, acima de tudo, policialmente capazes – que encobrem essa armadilha que criou para si mesma em Ritual. Pois se neste livro as tarefas de ambos os protagonistas voltam a estar sintonizadas na mesma investigação, temperadas por personalidades muito distintas, ainda não encontraram a lógica harmoniosa que tinham nesse primeiro volume.
Isso prova-se pela surpresa que Mo Hayder consegue produzir quando se receia que ela tenha aderido à moda de um tema cada vez mais comum entre os policiais e os romances publicados um pouco por toda a parte – a pedofilia – ou de que se tenha embrulhado demais em elaborações narrativas deixando a segunda metade do livro apenas para “encher páginas” num estilo de thriller pouco interessante.
Na verdade, Mo Hayder volta a mostrar o quão fiel é aos modelos clássicos de policiais, dispostos a esconder os seus melhores trunfos até ao final sem terem de roubar ao leitor o gosto de encarar desenvolvimentos fortes até lá.
Começa desde logo pela maneira como a autora usa a ameaça da pedofilia – iniciada pelo rapto de algumas crianças – apenas para revirar tal premissa e dar conta de outro género de negro potencial humano, o da vingança. O desaparecimento das crianças e o que lhes terá acontecido depois é usado no estilo do terror sugerido e não nomeado, até por se relacionar directamente com acontecimentos da juventude de Caffery que muito contribuem para o definir como personagem e como investigador.
Neste caso específico afectando directamente a investigação e proporcionando mais um mergulho no ambiente dúbio que o poder atribuído a um agente policial cria socialmente.
Abordar mais longamente o tema deste caso particular é arriscar fazer revelações sobre o enredo, pelo que aproveito para regressar aos protagonistas.
O que Mo Hayder faz com Flea e Jack – à parte as funções mais perigosas exercidas por ela – enquanto protagonistas é dividir o género de progressos na investigação entre os que dependem de uma lógica ponderada que, à falta de inspiração, podem comprometer vidas (senão mesmo o desfecho da investigação) e os que dependem de uma impulsividade desajuizada que contribuem em muito para a investigação mas perigam a vida de Flea e da sua equipa.
Inseridos na investigação ficam os traços que caracterizam os dois personagens e que definem aquilo que continua a fazê-los confrontarem-se profissionalmente e atraírem-se pessoalmente.
Esta bicefalia de feitios permite complicar a investigação, tornando-a mais errática em certos momentos e fazendo-a dependente tanto da acção como da dedução. E, sobretudo, leva à explosão do confronto de personalidades funcionando dentro do ambiente de trabalho onde o falhanço parece ser o mais habitual estado de coisas.
Isso continua a levar à exploração da história contínua que Mo Hayder estabeleceu desde o primeiro volume e que continua a testar os limites do justo e do indevido entre a classe policial quando afectada por afectos pessoais.
Com tudo isto, contrariando o que o embrulho do texto nos fazia crer, Perdida é uma óptima leitura que não aceita os lugares-comuns.
Falta apenas compreender – o que também ajuda a permanecer fisgado nesta leitura – que papel vai ter o Andarilho (personagem que dá nome à saga e que é uma espécie de mentor de Caffery) no final desta história.


Perdida (Mo Hayder)
Publicações Europa-América
Sem indicação da edição - Agosto de 2011
396 páginas

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Interesse intermitente

O relato da vida de Cícero feita pelo seu secretário pessoal acaba por ser um relato da estrutura do poder em Roma e das lutas que dentro dele decorrem.
Do poder directo que a população ainda pode exercer em certos momentos ao (para já, apenas anunciado) poder de um único homem sobre todo o Império, vamos experimentar o progresso da jovem República Romana.
A evolução da narrativa segue a evolução de postos assumidos por Cícero, primeiro Senador, depois Pretor.
Isso proporciona amplas oportunidades para vermos em acção os protagonistas das várias fases – candidatura, votação, assunção do cargo – que estão envolvidas em cada acto.
A necessidade de ter mais de quarenta e dois anos ou um milhão de sestércios para poder entrar na vida política são dados inseridos com agilidade no seio dos actos mais importantes, negociações obscuras e alianças mutáveis que permitem ganhar ou perder no último momento.
A vida política é apaixonante e lança-nos na vontade de ler livros onde as personalidades de gente como César ou Crasso não estejam tão constritas a linhas gerais ou simplificadas.
É o problema do narrador ser, apesar de tudo, uma personagem longe da ribalta da República – ainda que beneficie de uma presença privilegiada como escriturário em muitas reuniões – e, por isso, não poder dar conta de alguns dos mais importantes desenvolvimentos dela. (Embora para ser franco isso seja usado por Robert Harris para gerir alguns momentos próximos do thriller com inteligência.)
Essa limitação do narrador acaba por levar a que o melhor do livro sejam os momentos dedicados à vida de Cícero como advogado em que este tem estratégias brilhantes e discursos que mereciam ter sido ouvidos ao vivo. Momentos a que o seu secretário pode assistir de forma muito próxima, colaborando na sua preparação mas sendo sempre surpreendido enquanto elemento do público.
Isto, sobretudo, na primeira parte do percurso de Cícero em que a sua moral está acima de qualquer dúvida. À medida que a sua ambição aumenta e as suas maquinações têm de servir interesses políticos, Cícero perde-se como personagem heróica de uma República a necessitar de um defensor contra a turba de ladrões em cargos de grande significância.
A leitura tem um interesse intermitente sempre que o autor perde a mão ao equilíbrio difícil entre as duas dimensões do homem – e do seu carácter – mas é quase sempre cativante no seu estilo que combina a intriga política com o ambiente tenso de tribunal.
A par disso, há que referir o facto do livro sofrer de alguns anacronismos de expressão relativamente ao século I a.C. em que se passa, embora tal não afecte sobremaneira o correr da leitura.
Já a fraca revisão, que deixou à vista gralhas e resquícios de traduções alternativas, torna a leitura morosa em certos pontos e, com isso, cansativa.


Imperium (Robert Harris)
Editorial Presença
1ª edição - Dezembro de 2006
320 páginas

domingo, 26 de agosto de 2012

Subversão respeitosa

Tinha catorze anos quando li O Diário Secreto de Adrian Mole aos 13 anos e 3/4, uma prenda que acharam cair perfeitamente num leitor completando aquela idade.
Não gostei na altura e não voltei a querer saber do personagem, mas entretanto já tinha pensado se não seria tempo de rever essa minha posição. Afinal a personagem celebrava quarenta anos de existência literária, tendo envelhecido ao longo de quase uma dezena de livros e isso deveria significar que algo de bom ali estava contido.
Este The Queen and I só veio reforçar essa ideia de haver algo a encontrar nesse livro de há muitos anos atrás. Algo só perceptível numa idade mais avançada, mais informada e mais interessada.
Aqui temos um livro que se usa a Família Real para retratar o outro lado do Reino Unido, o dos bairros  e do Estado sociais.
A Família Real deixou de o ser e terá de viver na base de um rendimento de subsistência que o Governo lhe garante - só porque ninguém passa fome no Reino Unido Republicano.
O livro tomará em mãos o direito a crítica de todo o sistema político da altura, com destaque para os erros da forma como a subsidiação era usada pelos que a atribuem e pelos que a recebem.
Uma crítica que permanece actual, tal como a da governação utópica que, por uma vez, cumpre todas as promessas que animarão o povo sem ponderação daquilo que é sustentável.
Um país à mercê das crenças ingénuas de um governo que se mostra a reunir na cozinha durante o pequeno-almoço e que diz que não haverá nem Rei nem Presidente pois cada e todo o cidadão será a figura de topo do Estado.
Sue Townsend parece reaccionária até que revele o seu golpe final. Na ânsia de dar ao povo aquilo que o povo deve ter - sobe pensões ao mesmo tempo que diminui o custo dos transportes, entre outras medidas populares mas desmedidas - o primeiro ministro endivida de tal forma o país que tem de o entregar ao seu credor, o Imperador do Japão. E logo o Reino Unido volta a fazer parte de um Império onde o Sol nunca se põe!
As conclusões que se tiram do livro dão para fazer paralelos com o Presente, sendo ainda mais interessantes quando analisadas pela informação que nos dão do Passado de uma forma humorada que está mais próxima do pensamento dito mundano.
Naquele período pós Thatcher havia pois um desejo de contrariar a severidade das medidas aplicadas a um ponto tal que se retiraria o país das mãos de uns priveligiados para o dar a outros.
O tema político ganha ascensão sobre a narrativa à medida que o livro avança e fá-lo perder uma certa graciosidade que a primeira parte tem.
Uma primeira parte mais dedicada à transição pessoal dos membros da Família Real, do contentamento de Carlos ao abatimento de Filipe.
O gigantismo que tem de ser encaixado no espaço exíguo das suas novas vidas proporciona momentos delirantes onde uma verdadeira humanização das figuras que ainda por estes dias vemos exploradas e expostas com cada vez menos respeito em aspectos das suas vidas que são perfeitamente comuns, embora continuem a ser idolatradas nos momentos em que os seus costumes opulentos fazem outros sonhar.
Há uma meritória capacidade de Sue Townsend de tornar a Família Real num conjunto de personagens merecedoras de compaixão perante aquilo que as acabam de fazer sofrer e perante aquilo que tiveram de sofrer - sobretudo a própria Raínha - no tempo em que não podiam ser figuras anónimas.
Claro que, por mais divertida que seja toda a ideia do livro, ela acaba por assentar em bases muito periclitantes. É necessário aceitar ser-se crédulo para não discutir a implausibilidade da Família Real acabar nas condições que acaba e não num feliz exílio noutro país qualquer.
Mesmo assim, resulta na maior parte do tempo pelo inevitável gosto subversivo que proporciona, sobretudo por imaginarmos que a própria Raínha terá dado uma vista de olhos ao livro e visto-se no papel ingrato de pedinchar dinheiro da Segurança Social para alimentar o seu cão ou comprar ossos no talho para cozinhar uma canja ao marido que se recusa comer.
No final, a única certeza vem do primeiro capítulo, a Raínha não acabará realmente fora do trono, nem sequer na ficção. Sue Townsend arrasta-a um pouco pelo lado menos belo do Reino Unido mas assegura-se que ela permanece a salvo no final.
Porque ela é, afinal, inglesa e, como a maioria, pode regozijar-se com a ideia de deixar de viver numa Monarquia mas continua a mostrar o devido respeito que a líder do Império atrai dos seus súbditos!


The Queen and I (Sue Townsend)
Mandarin Paperbacks
20ª edição - 1997
320 páginas

sábado, 25 de agosto de 2012

Estômago para a publicidade

Confessemo-nos desde já. Se estive a ler isto é porque sou seguidor atento da série Mad Men. E se está a ler isto é porque é seguidor atento da série Mad Men e quer descobrir se vale a pena ler o livro.
Começo, então, pela inevitável comparação para aqueles que sintam que têm locais melhores onde gastar o seu tempo.
A série tem um apelo malicioso que vem do drama e daquela personagem absolutamente inesquecível que é Don Draper. O livro tem muito menos glamour do que a série mas compensa-o com uma sinceridade de sentido crítico que não poupa nem o mundo em que se insere nem quem por lá se move. Não que isso esteja ausente da série, mas é trabalhado de uma forma mais discreta e integrada com o restante que precisa de lá estar para criar um enredo que sustente cinco temporadas (até agora).
O livro de Jerry Della Femina - um nome excepcional que alguém teria de ter inventado se não existisse de verdade - é um manual sobre o mundo da publicidade com muito menos restrições.
O seu foco são as histórias absurdas que descrevem como as pessoas se comportavam pelos corredores de uma indústria em mudança, com os "malucos da criatividade" a perturbarem a seriedade das agência seculares.
Há lições claras a serem retiradas - removendo o ambiente datado - sobre o que se deve esperar do mundo publicitário se nele se pretender estar.
E há lições a retirar sobre aquele período específico, sobre o que a série não nos pode mostrar porque afectaria o glamour que é a sua imagem de marca. Essas lições são aquelas que tornam o livro num suceder de gargalhadas sonoras - tentei conter algumas que adivinhava chegarem e não consegui, outras foram uma surpresa total até ao momento em que uma certa expressão surgia impressa.
No fundo resume-se tudo a um desequilíbrio permanente entre o emprego e a criatividade. Aqueles que mais sobem (mais ganham) tendem a estar tão amedrontados em perder uma conta que só apresentam trabalhos seguros que sejam exactamente aquilo que o cliente já tem. Deixam de arriscar e tornam-se chatos e estão mais perto de perder o emprego.
Havia que ter estômago para aguentar o receio permanente, sobretudo com tantos almoços de três Martinis a acompanhar.
Della Femina não só tinha esse estômago, como tinha estômago para continuar a arriscar e ainda vir a público revelar os dislates a que assistia de posição privilegiada.
Isso torna o livro numa preciosidade para inspirar os menos ortodoxos a atirarem-se ao mundo da publicidade mas, sobretudo, para fazer rir todos os que o lerem.
O efeito que tanto riso provoca é a capacidade de perdoar as falhas deste volume enquanto livro, visto que lhe falta uma linha narrativa consistente que interligue as várias histórias e evite a quantidade de repetições que vão surgindo.
O mais grave, para os não iniciados, é a falta de contextualização sobre o mundo publicitário daquela altura. Biografias das agências citadas e umas páginas centrais com os anúncios mais importantes entre os citados - estes da Volkswagen, por exemplo - teriam tornado o volume muito mais compreensível para um público que só sabe de publicidade por via do que a série lhe mostrou e, provavelmente, indispensável na prateleira de quem trabalha no meio.
Creio que faltou criar uma parceria entre o tradutor e um publicitário com uma sólida formação sobre as "origens" do seu trabalho para levar a edição a um outro patamar.
Estamos num momento em que a publicidade é um tema muito em foco, o interesse pela criativadade que gera a ser aumentado pela série e a ser reflectido por vários artigos que surgem de forma regular na imprensa (Diário de Notícias e i, pelo menos) ou pelo livro que a Taschen dedicou àquela época, Mid-Century Ads: Advertising from the Mad Men Era.
Por isso, os interessados - na série, no tema e no livro - estarão mais preparados e serão mais exigentes com a edição para a qual não basta um conteúdo do melhor descaramento.


O Último dos Mad Men (Jerry Della Femina)
Civilização Editora
1ª edição - Abril de 2011
256 páginas

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Tudo se esgota

Noutro Agosto elogiei Jonathan Santlofer por ter conseguido aliar o seu trabalho como artista plástico ao seu trabalho como escritor de thrillers.
Sentia-me preparado para voltar a fazê-lo com este livro em que o protagonista trabalha com a polícia fazendo retratos forenses - e, também, como detective.
Sobretudo porque a inclusão dos desenhos dos suspeitos pareciam naturais, acabando por fazer a ponte entre a leitura e um mundo onde a imagética reina.
Nem sequer se podia acusar o autor de qualquer preguiça em que o desenho evitava a descrição do mesmo sujeito, visto que o processo de descrição do mesmo por parte das testemunhas está lá à mesma.
Apercebi-me que não poderia fazê-lo a meio do livro quando as ilustrações já deixaram de ser um elemento integrante da história e passaram a ser o acompanhamento do texto.
De tal forma se dá essa transformação que, já perto do fim, no capítulo 60, de três páginas uma está ocupada com o desenho de uma mão agarrada ao corrimão de uma escada e outra com o desenho de uma sala na qual entra um feixe de luz ao abrir-se uma porta.
Não se trata somente dessa ilustração redundante. Trata-se também de encarar que Santlofer dá a impressão de recorrer sempre ao mesmo método de relacionar elementos do livro por via do desenho.
Várias das suas vítimas/dos seus culpados - dicotomia gerida com algum interesse, já agora - passam o tempo a rabiscar elementos idênticos em folhas soltas, gerando um padrão que o detective do livro pode seguir.
Parece haver uma limitação do autor - parcialmente desmentida pelo restante que faz com a trama - que tem de recorrer aos desenhos para avançar em direcção ao ponto em que os vários fios da trama se unem, tal como no outro seu livro que li e que era protagonizado por uma personagem totalmente distinta.
Tais desenhos, como vários outros representando fachadas de prédios que o detective tem de visitar, acabam por desintegrar o papel dos desenhos no livro por terem origem no autor e não na sua personagem - algo que não acontece com os desenhos forenses (e, apenas parcialmente, com os desenhos que explicam o processo de reconstituição de um rosto através do seu crânio).
Tudo porque o personagem principal recusa-se (um pouco tolamente na minha opinião) a exercitar o seu talento de forma artística, obrigando-se a produzir apenas trabalhos com uma finalidade policial.
A harmonização de todo o tipo de ilustrações com o texto corrido seria simples se o detective transportasse consigo um bloco onde fizesse esquissos dos elementos que observa enquanto, por exemplo, vigia um suspeito.
Todo o tipo de informação que poderia encontrar mais tarde nesses esquissos - e que a visão momentânea não permite detectar - fariam avançar a trama da forma e no tempo que o autor pretendesse e este acabaria com uma natural autorização para aumentar o número de ilustrações em cada livro.
Parece-me que toda esta análise seria importante - e urgente para livros futuros - se feita pelo próprio autor, até porque tal uso do desenho desvia a atenção do essencial do livro: a história.
Pouco mais apetece dizer depois de tão longamente ter tratado tais elementos. A história é interessante e bem urdida em torno de uma vontade clara do autor de fazer a denúncia do falhanço que os próprios Estados Unidos da América têm tido na atenção dada aos seus soldados após as guerras em que participam e na atenção dada aos limites que devem impor à pesquisa que patrocinam de forma a tornar esses soldados mais resistentes.
A história acaba por envolver elementos que a tornam mais interessante, o que acaba por também esconder algum exagero de caracterização do próprio protagonista, impedindo que uma personalidade unívoca se apresente.
Falo da adição que o autor faz, às capacidades de desenho de Nate Rodriguez, de uma herdada capacidade sobrenatural para visões e de uma memória infalível para todas as caras que observou.
Talvez essas sejam capacidades úteis para um desenhista, mas ameaçam tornar redundante todos os actos convencionais de investigação.
Tal versatilidade imagética acaba por esgotar os seus bons efeitos e, ao que parece, desviar a própria atenção do autor da forma mais eficaz de executar aquilo a que se propõe.


O Caderno da Morte (Jonathan Santlofer)
Editorial Presença
1ª edição - Outubro de 2011
376 páginas

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Quase como os melhores

Quando passei os olhos pela sinopse deste livro a referência a um reality show levantou-me dúvidas sobre o livro mas com o tempo de férias propício a leituras de géneros mais leves, carreguei-o comigo.
Vale a pena desde já dizer que o livro desmentiu tais dúvidas e mereceu a leitura, sobretudo pelas muitas e boas referências que traz à memória e que o escritor reconhece nos seus agradecimentos: Pierre Boulle, Arthur Conan Doyle, H. G. Wells, Júlio Verne e Michael Crichton.
Todos sinónimos de aventura de ficção (ou especulação) científica e na sua maioria memoráveis escritores (evito falar de Crichton porque ainda tenho qualquer uma das suas obras por ler).
Warren Fahy não se incluirá facilmente no grupo, mas a sua actualização do género desperta o mesmo encanto que os locais isolados e as criaturas fantásticas despertavam noutras idades.
Fragmento não começa a funcionar quando, por via, do tal reality show arranja maneira de colocar as suas personagens num último local intocado do nosso planeta, mesmo se essa é uma boa ideia de lançamento.
O livro começa realmente a funcionar quando se dedica a explicar os factos mais importantes do que constitui a sua base científica e, também, a brincar um pouco com teorias pouco ortodoxas.
Isso dá à história de bizarras fauna e flora um certo conteúdo que a coloca para lá do mero apreço das criaturas radicalmente imaginadas (como alguns desenhos que acompanham o texto ajudam a constatar).
Um conteúdo que se cola a essas criaturas para poder dar aos leitores mais novos - a quem o livro será mais provavelmente dirigido - um interesse em aprofundar o breve conhecimento recém-adquirido. Ao fim ao cabo, o mesmo que as brilhantes criaturas de Ray Harryhausen faziam pela Mitologia quando esta surgia um pouco retalhada nos argumentos de cinema.
Pode isso tornar a primeira metade do livro um pouco estranha quando depois a emoção da aventura arranca até ao final do livro.
Mas é, afinal, também essa primeira metade que serve para adicionar uma consciência ecológica ao livro, consciencializando o tal público jovem para o mundo à sua volta.
Tudo isto acaba por ser uma actualização perspicaz de objectivos que os grandes escritores acima citados também tiveram para as gerações que então os liam em primeira mão.
Não posso deixar de assinalar que a modernização acaba também por falhar em certa medida, culpa do tal reality show que me trazia desconfiado.
Aqui as personagens não importam tanto quanto os arquétipos científicos que representam. Por isso, os momentos de conjugação romântica ocupam tempo que melhor servia ao combate de ideias entre os que clamam pelo apocalipse e os que confiam na reposição da ordem do mundo por via da evolução.
Nada que dê cabo da leitura propícia ao tempo de férias e à recordação de outros tempos livres.


Fragmento (Warren Fahy)
Porto Editora
1ª edição - Maio de 2010
392 páginas

domingo, 12 de agosto de 2012

A coluna vertebral americana

A América profunda deteriora-se a pouco e pouco, desfazendo-se muitas décadas depois das indústrias aço terem deixado de receber incentivos por parte dos que pensam que os lucros se multiplicam sem mais investimento, apenas mais exploração.
É a ruína do capitalismo americano por culpa da economia global onde as tácticas deixaram de ter em conta o monopólio que a América chegou a impor e que se esqueceu que teria de acabar.
Ferrugem Americana é sobre esta destruição da coluna vertebral da América - aprendemos isso com Mad Men e a campanha para a Bethlehem Steel, companhia da Pensilvânia onde este romance se passa - por uma via muito mais destrutiva do que a económica: a social.
Nos seus vários exemplos de vida - de um modelo só, como veremos - está a corrosão sistemática da crença. Crença no sonho americano e nos seus próprias méritos.
Todas as personagens estiveram à beira de escapar ao local onde se encontram, receberam oportunidades douradas para tal, mas minaram-nas pela sua própria consciência.
Convenceram-se de que não podem ou não merecem mais e acabam por permanecer nas situações que lhes são mais terríveis.
O pequeno génio que nunca foi para a Universidade para ficar a tomar conta do pai. O futuro jogador de futebol americano que se deixou levar pela procratinação e acaba na prisão pelo único crime que, de facto, não cometeu.
São apenas dois casos mas são os mais importantes, pois é esta dupla de amigos improvável que acaba pode colocar em marcha os eventos mais importantes do destino das pessoas de Buel.
Quando os dois fazem uma tentativa tardia e desesperada de fugir àquele destino - quatro mil dólares roubados ao pai de um deles e um plano de vagabundagem pelos caminhos de ferro - pouco depois da periferia da sua pequena cidade têm um encontro com o próprio destino que forjaram. As suas opções obrigam-nos a provocar uma morte e a regressar ao sítio de onde partiram.
Isaac (o rapaz demasiado inteligente) pode ter sido o autor físico da morte, mas é a teimosia de Billy (o desportista acabado por nunca ter tentado) que a provoca.
Isso afecta-os a ambos e Isaac parte de novo, a solo, fugindo de uma culpa que julga ser denunciada por... Billy, entretanto preso, acusado por uma testemunha e pela consciência local do merecimento em ser preso depois de anos antes quase ter morto um rapaz.
Afastados mas narrando o mesmo desencanto com o seu próprio falhanço, os dois tornam-se exemplos do que falhou insistentemente na vida dos pequenos locais americanos, esventrados e esquecidos.
Na verdade, por via do "fluxo de consciência" usado pelo autor, a narrativa dos dois adolescentes (e das pessoas que os rodeiam) torna-se na de uma cidade americana mais do que derrotada. E nessa pequena cidade americana, a corrosão do coração financeiro só pode levar a que uma pancada violenta num ponto da sua estrutura leve ao desmoronamento do seu conjunto.
De facto, todas as personagens à volta deles os dois seguem o mesmo caminho de esmagamento pelo destino.
Um acto violento - ainda que de legítima defesa - leva a que se revele os erros que foram todas as opções daqueles personagens (a mãe de Billy, o pai e a irmã de Isaac, o chefe de polícia) que os prenderam à terra que já nada tinha para dar.
Um acto violento que se repercurtirá em muitos outros. Cada personagem executando o seu, como se tivessem de os cometer para confessarem a paridade - talvez mesmo a inferioridades - àqueles rapazes que perderam o futuro tentando escapar dali, como alguns deles tentaram e outros nunca sequer com tal sonharam.
O que cada um entrega para destruição, seja corpo, consciência ou vida, tenta servir de redenção aos jovens que ainda merecem uma segunda oportunidade de partir daquele destino trágico.
Segunda oportunidade, ou terceira ou quarta. Em desespero, em nome de uma fuga que serviria para eles próprios se congratularem por não terem visto todas as gerações tombarem ali.
Todas estas vozes ecoam quase como uma só, permitindo sentir uma coesão do tecido do romance que é tal como julgamos que o tecido social da América profunda deve ser.
Um tecido esticado ao limite pela necessária crueldade com que Philipp Meyer trata as suas personagens. Não há perdão da parte do ficcionista quando as vidas nas suas mãos têm de ser, além de utensílios narrativos, alertas de consciência. E isto sem que os propósitos secundários derrotem a instância literária primeira.
Só o seu talento as ajuda a serem personagens fortes de uma visão aterradora que se repete para os americanos, um povo que parece condenado a repetir os erros de um Passado já esquecido mas, também, já muito bem escrito.
Sem comparações com nomes importantes ou buscas pelo Grande Romance Americano, estou em crer que  Ferrugem Americana prova que a coluna vertebral americana está desfeita, mas insiste ainda em não ceder. Talvez tenha mudado a sua forma - a antiga moralidade que aceita ter de contornar - mas não deixou de estar compacta com a fidelidade dos habitantes uns aos outros perante a ruína deixada pelos que puderam partir de bolsos cheios e esperanças intactas.


Ferrugem Americana (Philipp Meyer)
Bertrand Editora
Sem indicação da edição - Novembro de 2011
416 páginas

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Tão bem escrito que nada mais era necessário

João Ricardo Pedro escreve breves monumentos de notável beleza que se aproximam de um absurdo do prosaico.
O que não deixa cair ao chão tais episódios é o incrível cuidado de escritor que inventa - pela linguagem e pela sensibilidade - para cada capítulo uma notável sensação do extraordinário que há que aprender a ver.
Por momentos estamos em crer que há muitas vidas genealogicamente unidas que, de facto, dariam um livro - mesmo se a proliferação de episódios numa só família merece sempre uma desconfiança sobre se há tal sorte no mundo.
Bastaria que essas vidas ocorressem com a família de alguém que tivesse a sensibilidade de a entender e de a escrever. O problema é que quem vive tais episódio está demasiado ocupado a superá-los e digeri-los.
Fiquemos, pois, por quem os inventa e os trabalha, tornando o prosaico na matéria do brilhantismo.
João Ricardo Pedro é, numa metáfora que deverá estar cansada de ser usada mas que me parece vir a propósito, um escultor que retira todos os excessos à estátua que já se encontra no bloco de mármore.
Cada um dos seus capítulos, brevíssimos (na medida do tamanho que queremos que tenham) e intensos, está reduzido ao relato essencial da história que faz aquele momento. Mesmo quando parece o escritor perder-se em linhas mais experimentalistas, o resultado que nos espera é o deleite, assim mitigando - anulando mesmo - o perigo de perder a noção de alegria que vem de ler excelente literatura - mesmo quando esta é seríssima.
De tanto remover - volto à metáfora - poderá parecer que o escritor perdeu o fio que liga as suas várias peças.
Não é assim, na verdade o seu livro é uma exposição em que as peças se dispõem numa lógica cronológica e que, discretamente, completam um círculo de que o visitante só se apercebe ao ver a primeira das peças de novo explicada pela última.
Nenhum capítulo viveria sem os outros, nenhum estaria completo sem que os restantes o precedessem ou subseguem.
Por mais abandonados a si próprios que possam parecer, todos os capítulos são essenciais para criar uma visão final, um todo superior à soma das suas partes - ainda que haja partes solitárias de extraordinário valor - que se agrega com o sentido desejado.
Os espaços vazios entre cada peça - e é a última vez que recorro à metáfora - servem para o visitante as circundar, melhor entendendo a profundidade de cada forma e para que ouse descobrir o método do seu próprio avanço de uma para outra.
No limite, parece possível reajustar a ordem dos capítulos, seleccionar apenas alguns e, assim, refazer outras sagas e construir novos personagens, tudo com base no mesmo livro.
A soltura deste livro é um achado extraordinário que o torna numa saga familiar encorpada de um inesquecível valor literário. Tudo o que fica por dizer fica em favor do leitor, enquanto que tudo o que foi escrito não poderia ter sido esquecido.
Acredito que muitos leitores discordarão, falando da falta de um fio condutor mais determinado como causa para um falhanço do livro.
Tudo passa por querer encontrar tal fio discreto mas entrelaçado - o leitor que trabalhe um pouco, também - mas isso nem sequer importa verdadeiramente.
Quando alguém trabalha um texto até se apresentar de forma inspirada e com momentos de exacta perfeição, chamamos-lhe escritor e admiramos o seu talento. O resto vem com a prática, o factor que vai ganhando percentagem ao conjunto de inspiração e transpiração cujo bom resultado já dá para notar em O teu rosto será o último.

 
O teu rosto será o último (João Ricardo Pedro)
Leya
4ª edição - Maio de 2012
208 páginas

sábado, 4 de agosto de 2012

O último tabu

O sexo é tudo menos tabu entre a maioria da população, pelo menos desde que Sex and the City fez a sua aparição e granjeou sucesso. E dizendo sexo diz-se, também (e felizmente), a consciência saudável da sexualidade na sua multiplidade de escolhas e problemas.
Por isso já não é pela exposição cartoonesca do sexo que se torna provocatória, antes a utilização da mesma para chegar a alguns dos extremos a que estão submetidas as relações entre homens e mulheres, essas sim ainda uma fonte permanente de vergonhas, incómodos e dúvidas.
Esse é o verdadeiro tema dos dois livros que hoje por aqui passam, um recentemente lançado e o outro recuperado pela memória das similitudes que apresenta.
Enquanto o leitor supera o choque - ou a ideia do choque que uma etiqueta "Só para adultos" quer provocar - até ficar completamente à vontade com os desenhos, os livros vão ironizando com a ansiedade da performance, os comportamentos indecorosos e, acima de tudo, com as inseguranças e ideias imprecisas que se projectam no par.
Essa ironia devia, sim, chocar o leitor porque mais cedo ou mais tarde vai acertar com o seu caso - o seu erro? - particular.
Arthur de Pins é quem vai mais longe, brincando também com as próprias ideias impostas pelos conhecidos e pelos entendidos na matéria das relações e do sexo. Uma das histórias vai mesmo terminar culpando Os Homens são de Marte as Mulheres de Vénus pela transformação de um potencial sonho erótico de único homem num planeta de belas mulheres num pesadelo castrador (literalmente).
Mas o sintoma maior disso mesmo é o facto de Arthur de Pins usar recorrentemente um protagonista (e alter-ego?) de nome Arthur que acaba por dar azo a histórias que se tornam sequenciais e falam da evolução de uma relação até mesmo ao ponto em que esta se desfaz.
Zep não se desvia das pequenas histórias isoladas e foca mais o humor em muitos casos de "apanhado em flagrante" que deixam os protagonistas nas mais vexantes situações. Sendo muitos os casos em que a decisão final que os coloca nesse ponto é feita apenas em função do que se julga que o outro quer: uma mulher pede para ser insultada durante o sexo e sai porta fora ao ouvir "baleia" ou um homem lamenta o momento em que tentou acarinhar a mulher com quem está dizendo "Adoro fazer prut-prut contigo" depois de uma sessão de sexo com o que ela achava serem barulhos desconfortáveis.
O que está para lá do sexo é que complica as relações. A performance sexual causa mais ansiedade, mas é a performance emocional que prejudica mais casais. E é esta o verdadeiro alvo da mais descarada representação apesar do sexo ser o motivo principal dos desenhos.
Pequenos Prazeres e Happy Sex são ambos atrevidos - e no caso de Happy Sex é mesmo explícito - sem serem incómodos ou impúdicos.
Tudo porque o desenho de cada um inspira uma distanciação segura, misto de atração pelo animado efeito conseguido através das ferramentas escolhidas e uma desconsideração por uma ilógica visão de falta de seriedade (até infantilidade) do género de desenhos usados para representação do sexo.
Em Pequenos Prazeres são as ferramentas informáticas que tornam todas as personagens parcialmente indistintas, caricaturadas de forma simpática nas suas feições expressivas e providas de formas (no caso, sobretudo as femininas). Tudo sublinhado por uma escolha de cores vivas que proporcionam uma óptima sensação.
No caso de Happy Sex, as cores discretas - sobretudo em tons pastel - usadas para sublinhar as emoções dos momentos climáticos (humoristicamente falando, entenda-se) das suas diversas pranchas envolvem as personagens cujo realismo é minado pela caracterização exagerada da combinação dos elementos faciais que, assim, aligeiram ainda mais o realismo físico e situacional.
O leitor é solicitado a divertir-se pela marotice destes dois desenhos mas a visão dos seus autores não pretende desculpar as tolices que os seus personagens cometem por qualquer forma aligeirada de os representar.
Ei-nos perante o verdadeiro último tabu, saber como reagir ao sexo na nossa sociedade. Se estes livros forem parar às mãos dos adolescentes e não apenas dos adultos, talvez estes venham a evitar ser como algumas das personagens aqui retratadas que tiram as suas lições de filmes pornográficos.

 
Pequenos Prazeres (Arhtur de Pins)
Contraponto
1ª edição - Junho de 2012
176 páginas

 
Happy Sex (Zep)
Edições Asa
1ª edição - Setembro de 2010
64 páginas