sábado, 26 de setembro de 2015

Ambição minada

A Raíz do Ódio é o livro em que Anne Holt arrisca distanciar-se da sua abordagem anterior, não só num afastamento do minimalismo com que traça o conteúdo do livro, também estruturalmente.
A mudança da mera numeração para, agora, uma nomeação de todos os capítulos é um sintoma que exemplifica essa opção da autora por um enriquecimento deste livro.
Nota-se grande dedicação à formulação dos ambientes da história e disponibilidade maior para os momentos familiares da dupla protagonista.
Essa opção parece ter sido tomada para sustentar a opção por envolver mais directamente as duas linhas que Holt sempre traçou nesta sua saga.
Nesta história a vida privada (presente) de Vik e Stubø está entrelaçada com a trama policial de forma directa, com a filha de Johanne - com a sua inexplicada condição muito semelhante ao autismo altamente-funcional - a ser uma testemunha de um crime sem que tal seja entendido pela sua mãe que, ainda assim, pressente uma ameça rondando a filha.
Nesse aspecto a série atinge um pico de concretização que depois não tem o acompanhamento devido nas opções da trama.
A autora cria mais um conjunto de homicídios flamantes sobre o qual vai acrescentando elementos que complexificam um caso de ódio homofóbico.
Só que esse crescimento, que vem a par do de estilo do livro, torna-o menos sólido do que eram os livros mais concisos da autora.
Ela remata a trama de forma coerente, o que não impede que desta vez a lógica seja levada ao limite, com a autora a recorrer demasiado às coincidência para levar a história ao momento de resolução sem que nenhuma linha narrativa seja abandonada.
O exemplo maior é o facto de Johanne estar a preparar um estudo sobre crimes de ódio precisamente quando começa a série de assassinatos, o que lhe permite logo chegar à informação que será necessária.
Referindo mais uma vez Johanne, há que referir a sua evolução como personagem. Ela existe num patamar de constância desde o primeiro livro que tem de ser classificado como estagnação.
A sua paranóia com a filha atinge o ponto máximo mas, além disso, a sua relutância para voltar a ser profiler degladia-se com a sua atracção natural para os casos, o que resulta numa actuação individualista que continua inalterada e é injustificada perante o marido que tem sido absolutamente solidário com ela.
Vista a preponderância maior da vida do casal no livro tal evidência prejudica
Não é a referida ambição da autora que leva a que outros elementos do livro falhem. Esses problemas já lá estavam desde Castigo e agora atingiram um ponto em que são muito debilitantes para o resultado final.
Não é preciso ir mais longe do que à análise do tópico social de fundo, o homofobismo que chega à Noruega.
Relevante, sobretudo num país que muitos ainda consideram em que as pessoas são iluminadas quanto à igualdade de direitos.
Por isso a opção da autora fazer de tal tema uma directa importação dos E. U. A. e dos seus extremistas religiosos minimiza a expressão do problema.
A já anteriormente referida necessidade da autora trazer à baila os americanos parece já uma muleta e é uma opção que a afasta de forma crescente dos outros autores dos Noirdicos minando o interesse do que tenta dizer em subtexto dos seus policiais.
Anne Holt tem o talento para, mais uma vez, criar um livro que é uma muito agradável leitura. Falta-lhe uma noção de clara daquilo em que deve investir a qualidade do seu trabalho.


A Raíz do Ódio (Anne Holt)
Contraponto
1ª edição - Julho de 2011
384 páginas

Sem comentários:

Enviar um comentário