terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O vício de voltar

O segredo com a série Alex Cross é o de deixar passar tempo suficiente para que os defeitos de um volume estejam esquecidos e sobre apenas o interesse pelo personagem.
Apesar de alguns momentos de má exploração, há que reconhecer que Cross é uma sólida criação de James Patterson.
Psicólogo e polícia, pronto para ser herói de acção ou enfrentar investigações no domínio do noir, Alex Cross está a pouco de ser um super-herói de superação humana e o certo é que oferece a todos os leitores a abordagem aos casos que lhes interessa pessoalmente.
Dito isto, não se pode deixar de admitir que este volume é superior ao anterior, mais sólido e bem estruturado, e mesmo melhor para cativar leitores.
Trata-se de uma história cheia, com várias etapas e complicações a intrometerem-se entre Cross e um seu arqui-inimigo de volta ao activo depois de uma fuga da prisão.
(Aqui gera-se um problema, dado que o retorno deste vilão significa uma falta de contacto com os seus "feitos" anteriores. Apesar de Patterson integrar na narrativa parágrafos que contextualizam o passado que cross tem em comum com os outros personagens - e que funcionam como resumos dos seus livros anteriores - só uma imersão nos encontros anteriores permitira captar toda a essência que torna o adverário num arqui-inimigo.)
Se nestes livros há sempre uma necessidade de ter um arco narrativo fechado mesmo que personagens de outros volumes surjam, este volume permite-se jogar com vários arcos narrativos que se fecharão no momento em que também se fecha o arco narrativo mais longo.
A multiplicação do efeito de adversidade causado pelo arqui-inimigo de Cross - por imitação ou discipulado - permite complicar o papel que ambos têm de jogar na trama.
Melhor ainda, permite dar muitas expressões diferentes ao que seriam cenas de assassinato mais ou menos semelhantes.
A inovação e a extravagância dessas cenas são as metas de Patterson para manter o interesse do livro, o que ele consegue alcançar, acrescentando aos muitos assassinos uma utilização da sociedade do espectáculo voyeurista dos dias correntes.
Um excitante malabarismo que Patterson termina com um pouco de vertigem a mais, deixando em aberto o retorno deste personagem vilanesca promissora - que tem menos tempo de antena do que o desejável mas voltará para outros confrontos.
(Novamente enfrentamos o problema da "bagagem" que o personagem carrega e que nos falta conhecer, o que torna o arco narrativo simples mais satisfatório do que o arco narrativo que terá, pelo menos, mais um volume ao longo da série.)
Um passo mais numa série que tem essa virtude maior de ir levando consigo os leitores numa lógica de fiabilidade do personagem no seio de situações cujo grau de satisfação variam.
Se o sucesso de Cross em cada uma delas é garantido, o seu comportamento continua a ter traços humanos credíveis.
Sobretudo incongruências que se esperava que um psicólogo criminalista de excepção soubesse reconhecer e eliminar em si, mas ainda mais o misto de arrogância por despreocupação e inconsciência por habituação face aos perigos que são uma constante.
Ainda que perto do tal estatuto de super-herói, é a sua parte humana que traz os leitores de volta a cada nova aventura.
Com mais alguns meses e um esquecimento leve, de certeza que me dedicarei ao vício de entretenimento que Patterson criou com esta série em particular. Nem que seja para me indignar um pouco...


Alex Cross: Perigo Duplo (James Patterson)
Topseller
1ª edição - Maio de 2013
384 páginas

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