terça-feira, 24 de julho de 2012

Um nome fácil de recordar

Onésimo será nome de revelação para a maioria dos leitores mas é autor a merecer reconhecimento pelo seu extenso domínio da arte de bem escrever.
A Língua Portuguesa nas suas mãos é material cuidado, enriquecido por um certo descaramento em nela misturar o exótico linguajar inglês dos portugueses emigrados nos Estados Unidos da América.
Mas isso é apenas parte do interesse de um cronista (escrevo-o no lugar de escritor apenas para evidenciar a forma dos textos aqui compilados) cuja inventividade pode ser constatada percorrendo apenas a lista de títulos do índice.
A sua mais distinta qualidade é a de narrador apaixonante. Na brevidade que as crónicas exigem ele é capaz de extasiar o leitor uma mão cheia de vezes.
Por essa maneira se descobre ele aventureiro sadio, sábio auto-irónico ou vítima lúdica. Ele é o primeiro dos personagens que revela, embora muitos outros mereçam parágrafos seus. Pelos olhos dele, a realidade é a origem maior da ficção mais memorável.
Estamos em suspenso nas suas palavras que nos controlam a emoção sem chegarem a precisar da entoação ou da espera de que uma narrativa oral costuma beneficiar para atingir o mesmo resultado.
Onésimo - surpreende-me a facilidade com que, ao fim de quatrocentas páginas, se fica a tratá-lo intimamente usando apenas o primeiro nome -  faz-nos isto tratanto vários assuntos corriqueiros mas, como bem indicam os temas em que as suas crónicas foram divididas, está a falar-nos do mundo.
Um mundo aquém- e além-Atlântico, de uma portugalidade que ocupa as duas margens do oceano e ainda o enche com aquelas pequenas ilhas lá plantadas.
Portugalidade a ser lida com espírito aberto mas, também, com caneta e bloco ao lado para tomar nota das referências a que o autor recorre. Seja para se ir descobrir ou seja para ir reler as ricas recomendações que ele lança, não se sai do livro sem uma recuperada noção da elevação cultural do nosso pequeno país.
Aprende-se, portanto,  sobre o país do topo ao fundo dos seus méritos socialmente estratificados.
Não me merece dúvidas que, nessa perspectiva, o mais importante texto deste volume é a Trilogia Breve, retrato de seis páginas (um pouco menos, até) da evolução do perfil do emigrado nacional e das reacções a ele por parte tanto do país que o recebe como do país que o viu partir.
Um retrato de raízes cortadas pelos que ficaram parados e parecem deixar de saber acolher devidamente. Tudo feito em três episódios do senhor Chico Ávila em que todas as palavras contam para fazer valer o nosso entendimento.
Claro que sei, por outro lado, que a impressão mais duradoura do livro será o seu humor quase constante. Também por culpa da crónica última, Que nome é esse, ó Nézimo, que compila os muitos dislates a si dirigidos por via do seu nome. De Big O a Professor Almerda, tudo lhe chamam e ele gosta de coleccionar a memória de tais nomes.
Mas para o leitor português que não hesitar, o nome de Onésimo Teotónio Almeida será facilmente memorizado, sem erros mas com saudades!


Onésimo - Português sem Filtro (Onésimo Teotónio Almeida)
Clube do Autor
1ª edição - Maio de 2011
400 páginas

1 comentário:

  1. O autor do livro lê isto e não pode deixar de revelar-se grato com um abraço.

    onésimo

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