Eu sei que este livro foi escrito para os "jovens adultos", mas um policial é um policial e tenta os leitores.
E deveria ser um policial nórdico quanto muito com o grau de choque reduzido para o público a que se destina.
O cenário inicialmente montado promete ser o que normalmente vemos como a revelação dos segredos negros de uma sociedade habitualmente considerada ideal, rapidamente esta se transforma num mistério liceal à americana onde a componente de relações entre grupos de maior e menor popularidade tem primazia.
A trama é relativamente eficaz, ainda que totalmente implausível, com uns adolescentes a enfrentarem e vencerem a máfia local.
Daí vem essa sensação de que o livro se inspira nas aventuras ficcionais que costumam chegar do outro lado do Atlântico e que não se compadecem com o realismo que vimos a associar aos policiais nórdicos.
Essa evocação só faz com que história revele a sua gritante falta de originalidade que mostra que a autora tentou posicionar o seu livro dentro de uma etiqueta que tem sucesso (quase) garantido quando, ao mesmo tempo, recorria a processos que destoam, por completo, desse género.
A tentativa da autora colar a sua heroína a Lisbeth Salander só demonstra que a autora não tem capacidade para criar algo que não seja um derivado.
Não importa que a autora até coloque Lumikki Andersson a brincar com essa ideia de que ela é como uma filha da personagem Stieg Larsson (com Hercule Poirot, valha-nos a presunção de Salla Simukka para nos fazer rir!), pois não é pela auto-consciência de personagem e autora que a imitação passa a ser mais meritória.
A imitação leva Simukka a escrever a sua protagonista adolescente como uma exímia lutadora, hacker e espia.
Não bastava que a rapariga não tenha idade para tal, mas ainda por cima ganhou a sua perícia nas diversas áreas completamente sozinha.
A autora nunca caracteriza a fundo Lumikki, passando o livro inteiro a sugerir um segredo profundo que a tornou naquela máquina de eficácia e secretismo quando se trata de combater o crime.
O segredo não passa de um caso de bullying a que Lumikki respondeu com violência, ou seja, nada que recupere o livro para uma história dos negros segredos da sociedade Finlandesa.
Ainda menos algo perto de ser plausível como justificação para o que lemos que ela é capaz de fazer e cuja preparação é referida como umas visitas ao ginásio.
Para um caso em que a autora está a criar uma forte personagem feminina que sirva de modelo às suas jovens leitoras e perde a mão, levando-a para o patamar logo abaixo da super-herónia.
Ter usado uma estrutura policial apenas eficiente como base para o seu drama adolescente foi, no mínimo um facilitismo literário, no máximo uma estratégia comercial.
Se a ideia era proporcionar uma introdução ao género em causa, talvez numa forma tendencialmente asséptica, a leitores mais jovens (e impressionáveis?), a autora falhou.
A simplificação acaba por não exigir algum esforço a esses leitores (nem vale a pena mencionar os que estão para lá desse ponto) que ficam vidrados na componente de angústia adolescente e não recebem o estímulo de uma trama intricada.
Vermelho como o Sangue (Salla Simukka)
Editorial Presença
1ª edição - Janeiro de 2015
216 páginas
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