Quando passei os olhos pela sinopse deste livro a referência a um reality show levantou-me dúvidas sobre o livro mas com o tempo de férias propício a leituras de géneros mais leves, carreguei-o comigo.
Vale a pena desde já dizer que o livro desmentiu tais dúvidas e mereceu a leitura, sobretudo pelas muitas e boas referências que traz à memória e que o escritor reconhece nos seus agradecimentos: Pierre Boulle, Arthur Conan Doyle, H. G. Wells, Júlio Verne e Michael Crichton.
Todos sinónimos de aventura de ficção (ou especulação) científica e na sua maioria memoráveis escritores (evito falar de Crichton porque ainda tenho qualquer uma das suas obras por ler).
Warren Fahy não se incluirá facilmente no grupo, mas a sua actualização do género desperta o mesmo encanto que os locais isolados e as criaturas fantásticas despertavam noutras idades.
Fragmento não começa a funcionar quando, por via, do tal reality show arranja maneira de colocar as suas personagens num último local intocado do nosso planeta, mesmo se essa é uma boa ideia de lançamento.
O livro começa realmente a funcionar quando se dedica a explicar os factos mais importantes do que constitui a sua base científica e, também, a brincar um pouco com teorias pouco ortodoxas.
Isso dá à história de bizarras fauna e flora um certo conteúdo que a coloca para lá do mero apreço das criaturas radicalmente imaginadas (como alguns desenhos que acompanham o texto ajudam a constatar).
Um conteúdo que se cola a essas criaturas para poder dar aos leitores mais novos - a quem o livro será mais provavelmente dirigido - um interesse em aprofundar o breve conhecimento recém-adquirido. Ao fim ao cabo, o mesmo que as brilhantes criaturas de Ray Harryhausen faziam pela Mitologia quando esta surgia um pouco retalhada nos argumentos de cinema.
Pode isso tornar a primeira metade do livro um pouco estranha quando depois a emoção da aventura arranca até ao final do livro.
Mas é, afinal, também essa primeira metade que serve para adicionar uma consciência ecológica ao livro, consciencializando o tal público jovem para o mundo à sua volta.
Tudo isto acaba por ser uma actualização perspicaz de objectivos que os grandes escritores acima citados também tiveram para as gerações que então os liam em primeira mão.
Não posso deixar de assinalar que a modernização acaba também por falhar em certa medida, culpa do tal reality show que me trazia desconfiado.
Aqui as personagens não importam tanto quanto os arquétipos científicos que representam. Por isso, os momentos de conjugação romântica ocupam tempo que melhor servia ao combate de ideias entre os que clamam pelo apocalipse e os que confiam na reposição da ordem do mundo por via da evolução.
Nada que dê cabo da leitura propícia ao tempo de férias e à recordação de outros tempos livres.
Fragmento (Warren Fahy)
Porto Editora
1ª edição - Maio de 2010
392 páginas
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