terça-feira, 25 de agosto de 2009

Um feliz acidente

Estava a chegar às oitenta páginas de Timbuktu quando me coloquei a folhear o livro.
Foi uma reacção ao esforço que vinha fazendo até aí, uma forma de avaliação de quanto me faltava ler.
Reparei nesse momento que o livro tinha uma série de páginas repetidas no lugar das páginas que lá deviam estar.
Foi como uma bênção que me permitiu escapar a um livro que me vinha desagradando mas contra o qual continuava a teimar por aquilo que o nome do seu autor evocava.
Mesmo não sendo um leitor dedicado de Paul Auster – afinal de contas continuo a achar que a sua melhor obra é a adaptação em Banda Desenhada que Paul Karasik e David Mazzuchelli fizeram de um dos seus contos retirados de Trilogia de Nova Iorque – reconheço-lhe diversas qualidades e interesse também.

Mas Timbuktu revelou-se um discurso disperso, um acesso de memória, sempre com reentrâncias e becos sem saídas, contínuo mas periclitante nos saltos entre temas, ora pedaços de filosofia do homem comum, ora referência de cultura popular, ora sonho, ora lembrança.
Um discurso dividido pelos seus dois protagonistas, um homem a morrer e o seu cão fiel.
Mas a personagem do cão parece – pelo menos até onde me foi possível ler – inútil, a extensão da personalidade mais desagregada do seu dono e, simultaneamente, um apego emocional de uma personagem para com os seus leitores.
O encontro com a falta de páginas foi, perante o que acabo de descrever, nada menos que um alívio, que de bom grado teria descoberto mais cedo.
O livro, ilegível e já introcável, encontra-se agora na reciclagem de papel. Um fim injusto, mas inevitável.


















Timbuktu (Paul Auster)
Edições Asa
5ª Edição - Novembro de 2000
160 páginas

1 comentário:

  1. Timbuktu ou Tim Buck II (como chega a ser referido por, salvo o erro, Mr. Bones)é uma das obras mais fracas de Auster. Para quem lê Auster pela 1ª vez, este não é o livro ideal...
    Quanto à banda desenhada baseada em "The New York Trilogy", do meu ponto de vista, fica muitíssimo aquém do original austeriano.
    Como austeriana "convicta",
    sugiro-lhe "Leviathan", ou "Mr Vertigo", ou "Moon Palace", ou "In the country of last things"... "Timbuktu", naaaaaa...

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