O segundo livro protagonizado por Gabriel Ponte é o verdadeiro thriller anunciado a propósito desta nova saga de Pedro Garcia Rosado.
Repleto de cenas passadas em túneis subterrâneos onde elementos de equipas de intervenção da polícia se têm de confrontar com um adversário inesperado e feroz na luta corpo-a-corpo.
Cenas essas que surgem no interior de uma história onde a ganância e a violência se combinam num espectáculo - rentável e ilegal, obviamente - bem ao gosto da animalidade humana.
Um história, ao fim e ao cabo, recheada das ideias extravagantes que costumam ancorar muitos filmes (bastantes de segunda categoria) de Hollywood desde os anos 1980 - embora com diferentes matizes ao longo dos anos.
Tal trama torna a leitura veloz mas nem tanto voraz. Há alguma indiferença que acelera o leitor em direcção ao final do livro.
Apesar da tentativa de colar esta história a um cenário reconhecível, a sua implausabilidade e vulgaridade temática não permitem mais do que um reconhecimento de que o autor estrutura bem a história e continua a escrever bem - sobretudo diálogo com verve, perto de constituírem tiradas clássicas.
Mesmo tendo sido feita a integração de cenários da capital portuguesa, a história não consegue transmitir a sensação de ser nacional. Parece uma história genérica que poderia ser colocada em qualquer ponto do mundo sem nunca transmitir a sensação de lhes pertencer - ou de pertencer a outro sítio que não um cenário falso desenhado para um filme.
Parte da culpa está, também, na forma como Pedro Garcia Rosado não consegue dar vida à Lisboa do livro.
No primeiro tomo, Caldas da Raínha surgia como um local que acolhia Gabriel Ponte mas que não era bem definido. Ao deslocar o ex-inspector até Lisboa, Pedro Garcia Rosado tenta torná-la numa personagem mas acaba por não conseguir senão enumerar alguma toponímia sem conseguir definir uma verdadeira geografia - e uma geografia dramática!
O próprio comportamento da personagem central está em desacordo com o que fora em Morte com Vista para o Mar.
Gabriel Ponte é agora demasiado impetuoso e dado a um certo papel de herói de acção que difere da racionalidade e capacidade conciliatória que constituíam as suas primeiras forças.
Depois de no primeiro livro o autor ter chamado ao trabalho o retirado inspector usando-o como consultor externo, agora fá-lo colocando-o a investigar por conta própria a morte de um amigo.
Não deixa de ser uma abordagem aceitável, mas sugere menos uma evolução daquilo que Gabriel enfrenta do que uma procura de situações o mais agarradas a um pretenso realismo - que, como se vê, é impossível de manter neste livro.
Morte na Arena é o livro mais excitante - talvez até se deva dizer "bombástico" - da saga de Gabriel Ponte mas é, também, o menos interessante.
Se facilmente conquistará leitores, também deixa de lado o interesse que o primeiro livro viera criar a propósito de um detective português falível mas pleno de potencial.
A versão de "durão" aqui apresentada parece pertencer a um outro personagem e é difícil conciliar este livro com o seu predecessor.
Morte na Arena (Pedro Garcia Rosado)
Topseller
1ª edição - Agosto de 2013
352 páginas
Sem comentários:
Enviar um comentário