terça-feira, 16 de setembro de 2014

De boas intenções...

Este livro está longe de ser um repositório do que foi o reinado de D. João II... O que nos atrai é o homem, não tanto o rei...

São estas algumas das palavras com que Jorge Sousa Correia nos explica os seus intentos com este livro.
As expectativas criadas são interessantes mas são igualmente um ónus desnecessário. E se a qualidade de um livro não se avalia por comparação com as expectativas que dele se têm, certamente que não ajuda que quem o escreve se proponha a mais do que conseguirá fazer,
Ao contrário do que o autor pretende, As Sombras de D. João II é, de facto, uma crónica de um reinado, detalhada mesmo se tende a regressar aos detalhes mais particulares de como o rei reagiu, sentiu ou actuou em vários dos momentos decisivos.
Até no estilo isso é notório, elaborado para dar aquela sensação de arcaísmo mas moderno o suficiente para não alienar o leitor.
Por o livro chamar ao título a palavra "sombras", sabemos pelo menos que esta crónica nunca seria puramente objectiva, nem uma leitura do lado dos vencedores, que é como dizer que elevava todas as decisões ao nível do heroísmo estadista.
Há considerações menos aprazíveis sobre D. João II, explorações de uma personalidade que alcançava o sucesso como regente deixando-se guiar pelo egoísmo ou pelo orgulho pessoal 
Essa exploração parece-se vezes demais com uma censura do autor ao homem de então, reforçando as "sombras" para justificar que este livro exista contra os relatos históricos.
Uma exploração a que falta algo mais significativo, a capacidade de compreender que à época o homem e o reino se confundiam na figura do Rei, pelo que o Ego e a Razão de Estado estariam quase sempre associadas.
Neste livro sente-se que o homem é julgado de acordo com os preceitos morais correntes e não tanto com os da sua própria Era.
O mal maior do texto é que estas duas vertentes, de crónica e de exploração da psicologia do personagem central, não combinam.
O estilo mais raivoso e tenso dos diálogos (internos ou não) de D. João II gera quebras evidentes com o mais átono desfiar dos episódios que marcavam Portugal naquela altura.
Não há uma voz contínua do autor deste livro, sendo essa a maior das limitações às suas intenções iniciais.
O autor bem as afirma numa introdução motivada e determinada, mas depois sobram a crítica subjectiva e a narração objectiva de quem escreve, nenhuma delas sendo aquilo a que ele se propôs.


As Sombras de D. João II (Jorge Sousa Correia)
Clube do Autor
1ª edição - Junho de 2014
280 páginas

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