Malgrado o título sonante e a forma espalhafatosa como é estampado na capa do livro, Assassino Americano não é um chorrilho de cenas de acção e morte apontadas ao gosto patriótico Republicano.
Aquilo que o título verdadeiramente vem a revelar é que Vince Flynn sabe como lançar o isco para o que é uma história de origem do que virá a ser um homem ao serviço das tomadas de decisões mais obscuras e secretas da CIA em nome da manutenção do mundo livre.
Com isso, além de uma interessante história individual, o autor tem ainda possibilidade de incluir alguma reflexão de fundo sobre a actuação americana nos muitos conflitos em que participou de forma directa ou velada.
Fala da responsabilidade de algumas decisões políticas americanas na geração do terrorismo que agora coloca em causa o país ou do tipo de manobras - tortura, por exemplo - que os equiparam aos países que tanto censuram.
A sua apologia do grande herói americano, com tanto de instinto e individualismo quanto de treino, não vem sem um claro sentido crítico para com o contexto onde este se insere.
Por isso é que Assassino Americano surge como uma conjugação das velhas e novas formas de abordar o thriller político.
Das velhas retira o foco nas personagens e a multiplicidade de facções políticas - e consequente densidade de relações. Das novas retira o heroísmo violento e solitário e a pontuação do ritmo pelas cenas de acção.
A mistura é potenciada pelo período em que o livro decorre, onde a Guerra Fria começa a dar lugar às actividades da Jihad Islâmica.
Claro que o que acabamos por acompanhar com mais interesse é a história individual que já referi e que parece merecer o investimento que promete vir a ter de ser feito ao longo de uma série de romances com o protagonista.
A composição de uma estrutura de agentes altamente capazes mas descartáveis por não possuírem uma ligação directa à CIA não é particularmente original. Nem a forma como Mitch Rapp acaba por ser escolhido para esta unidade de combate ao terrorismo - o desejo de vingança pela morte da sua namorada num atentado contra um avião.
Já o desenvolvimento da personagem e o conjunto de decisões que toma no terreno tornam-no mais interesse e desenvolvem matizes na sua personalidade. E as suas relações com os seus superiores - tanto no tempo de treino como já em pleno período activo - são muito bem exploradas.
Para o fim deixei o destaque que, quanto a mim, traz um merecimento de distinção a Vince Flynn. Se os parágrafos acima poderão ser usados para muitos autores igualmente capazes de misturar acção em doses moderadas de ensaio político, menos serão aqueles que demonstram ser, de facto, escritores.
Vince Flynn arriscou uma estrutura de vagabundagem temporal que controla com precisão para gerar expectativa sem deixar o leitor perder-se.
Isso torna o livro em algo mais do que uma leitura de inconsequente ocupação dos tempos livres para a tornar numa apreciação de talento.
Assassino Americano (Vince Flynn)
Clube do Autor
1ª edição - Setembro de 2011
440 páginas
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