Ainda que Carlos Ruiz Zafón diga que este é um dos livros que recorda com maior apreço, é o menos interessante de entre os que dele pude ler.
A sua introdução ao livro deixa a sensação de que tenha sido pela resistência do livro a uma década de más edições que ele tanto o aprecia. Um sentimento de pai à espera do ressurgimento do filho pródigo que o seu sucesso com A Sombra do Vento viria, finalmente, a proporcionar.
Deve ser esse o motivo - a par de ser o seu livro "mais pessoal" - pois logo no primeiro parágrafo da introdução o autor diz que o favoritismo dos autores recai sobre obras independentemente da sua qualidade literária.
Essa não abunda neste livro que o esfaimado sucesso levou a ser reeditado para disfarçar o tempo de espera por um novo livro.
Marina não é mais do que uma versão mais cheia d'O Príncipe da Neblina. E à conta disso, uma versão menos interessante.
Os temas são os mesmos: a busca de uma figura tutelar e o heroísmo do primeiro amor, sobretudo. Mas também os detalhes menores da história se repetem, do prenúncio mecânico (relojoeiro) dos perigos orgânicos que se aproximam ou a jovem rapariga envergando o alvo vestido de pureza.
A história tem o mesmo rasto de mistérios obscurecidos pela sombra do sobrenatural: uma aventura detectivesca nas mãos de protagonistas que, pela sua juventude, olham ainda para o inexplicável como brumas de magia.
Trata-se de glorificar o acto de fé dos ingénuos que ainda partem por um bairro desconhecido (já o dizia Dinis Machado em O que diz Molero) e encontrar uma aventura sem medida.
O mesmo terror gótico os assombrará mas tal só existe como forma de brindar os jovens com as peripécias que prometem a morte a quem tem ainda tanto que viver. Bem ao contrário d'O Príncipe da Neblina onde o terror impregnava a essência de uma história feita da aventura de pura amizade - um amor em sentido lato - entre dois rapazes.
Falta a Marina a agilidade desse outro livro que levava o leitor de susto em susto crendo que esses sustos teriam consequências concretas sobre as personagens.
Aqui a história parece demasiado cheia por um núcleo que não é mais do que uma derivação por terrenos de fascínio acrescido quando comparados ao arco narrativo que liga o início ao fim do livro e que não precisa.
Núcleo fechado, quase independente, sem desfecho que toque o arco narrativo que revela o verdadeiro tema do livro.
Um arco narrativo que não é mais do que a história simples de um amor cândido mas condenado. Uma tragédia de apaixonados escrita melhor por outros.
O miolo fantástico do livro parece estar lá porque é esse o terreno de eleição de Zafón e ele não sabia que mais fazer com as suas personagens entre a descoberta e a perda dos seus personagens. Como se duas matrioshkas desemparelhadas coubessem, por acaso, uma dentro da outra.
Marina é uma releitura do que estava para trás com um aviso do que está por vir (e de que falarei na crítica que se segue, a A Sombra do Vento).
Só se entende que tenha honras editoriais por preencher o vazio de vendas e o desejo do autor ver a sua obra recuperada com qualidade e cuidado.
Marina (Carlos Ruiz Zafón)
Planeta Manuscrito
1ª edição - Setembro de 2010
264 páginas
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