domingo, 10 de outubro de 2010

Sejamos humanos

Um arremedo do romance policial montado como um romance xaroposo que poderia ser de Warthon ou Austen.
O resultado é uma delícia de quem e para quem ama a literatura.
A um romance não importa como nem porquê, não importam as origens, os temas ou as ideias.
O que verdadeiramente importa a um romance é o talento com que é feito e o resto se comporá.
Não é universal esta frase, como nenhuma é senão até ao próximo livro, mas ver estas quatro talentosas mãos a passearem-se pela inconsequência e a regressarem de lá com um belíssimo livro obriga a que a escreva.
Brincando com algumas personagens, com os seus percursos tontos e mal conduzidos, Ocampo e Bioy Casares fazem da ridicularia humanidade, fazem-nos crer que é assim que se deveria viver e não com a seriedade de cabeça erguida.
Expressar a nossa incongruência e a nossa tolice é a forma mais pura de afirmar a nossa humanidade, de mostrarmos a nossa existência ao mundo para quem somos uma partícula antiga de riso esquecido.
Vamos passar sem deixar uma marca profundamente significativa no mundo, então porque não deixar uma marca profundamente significativa na nossa própria vida – e na vida de das ou três pessoas que se aproximam de nós, se conseguirmos interessar-nos por isso.
Essa marca é a marca da confissão e da confiança, do despojamento, do risco do ridículo, da irresponsabilidade, do agir sem pensar.
Sejamos tontos, sejamos libertos, sejamos inconsequentes, sejamos aquilo que nos ensinaram a esconder.
Sejamos, pois, humanos e criemos da tontearia a beleza.


















Quem ama, odeia (Silvina Ocampo e Adolfo Bioy Casares)
Oficina do Livro
1ª edição - Setembro de 2009
168 páginas

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