sexta-feira, 9 de julho de 2010

Um pai que somos nós

Por vezes senti-me quase indecente a ler estas crónicas de José Eduardo Agualusa, como se tivesse passado o risco e deixado de ser leitor para ser um voraz predador.
A culpa é dele - veja-se como já nem o trato por "o autor" - que confessa a si próprio com tal sentimento e honestidade que nos torna parceiros em vez de leitores.
O humor e o sentimento que coloca em cada crónica são deliciosos, momentos de pura ternura que cada um de nós quer para si mesmo e que tomamos sem pensar no assunto.
E Agualusa não se esquiva a falar dos seus sentimentos, a expôr aquilo que a sociedade disse por tantos anos que os homens deveriam esconder. Mais do que um novo paradigma de Pai, Agualusa trata de um novo paradigma de Homem.
Ele não disfarça os seus medos e as suas "fraquezas emocionais". Quando se ridiculariza é mesmo porque a situação o permite.
Estas crónicas são a forma saudável de cada um dos que foram/são/serão pais entrarem na vida dos seus filhos e se tornarem mais completos como seres humanos.
Nada se sabe sobre ser pai até se ser. Até lá especula-se, amedontra-se, desconfia-se, inventa-se. Um pai nasce logo quando a sua mente se inventa na expectativa de ser pai.
Muitas verdades nos ficam destas crónicas, muitos prazeres partilhados, muitas lembranças. Não são nossas, mas é como se fossem, tão abertamente partilhadas.


















Um Pai em Nascimento (José Eduardo Agualusa)
Alfaguara / Editora Objectiva
1ª edição - Março de 2010
146 páginas

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