terça-feira, 6 de julho de 2010

Ensino satisfatório

Eis o retrato de uma década essencial à política portuguesa, de 1908 a 1918, feita com a maestria de quem tem muita informação a partilhar, de quem pesquisou bem as várias posições que surgiam no país, mas que nem por isso negligenciou o fulcro de uma obra de ficção, as suas personagens e a empatia com elas.
Perante uma família cujas dramáticas e dramatizadas relações internas recriam a turbulência de um país, a admirável economia de José Jorge Letria evita que o livro se reduza a uma barata noveleta, antes enriquece as breves páginas do livro onde cabe uma admirável quantidade de informação.
Informação que constitui cenário e contexto, não motivo do livro. O motivo é a história bem contada e bem idealizada, uma história que se segue com expectativa e que origina em nós emoções sinceras.
Lendo este livro acabamos por ter uma lição sobre a Primeira República sem darmos por isso. A leitura quase compulsiva é agradável o suficiente para darmos apenas por certo o tempo que passámos entretidos.

Não deixa de ser necessário um reparo, mais em jeito de aviso. Será conveniente ao leitor parar de ler ao chegar ao epílogo.
A pedagogia militante deste não condiz com o que foi o romance até ali e ainda que não o prejudique de forma irremediável, não deixa de constituir uma imperfeição evitável no que, de resto, é um interessante e sólido livro.


















O Vermelho e o Verde (José Jorge Letria)
Planeta Manuscrito
1ª edição - Abril de 2010
152 páginas

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