A solidão desamparada, a pobreza inevitável e a crença desenraizada. Todos estes são tanto os sintomas como as causas da perdição humana.
Cada um dos que sofre - ou se decide a sofrer - em tais estados procura a solução nos locais mais
Neste caso, um mudo, em quem os desejos de humanidade de cada um dos demais se projectam para os satisfazer e iludir do que no mundo se passa - sobretudo se passa contra eles.
Mas nenhum desses que sofrem vê a existência singular desse mudo. Nenhum o compreende senão como aquilo que julga dele.
Daí que o suicídio deste último lhes seja tão estranho e visto com tanto egoísmo. Ele pertencia-lhes, era aquilo que eles queriam e ao suicidar-se deixou-os de novo entregues a si mesmos.
Nenhum deles compreendeu, nem mesmo o mudo que todos julgavam sereno e confiante, que não é pelos outros que se salvam ou que se olvidam dos males que os vitimam.
É por si próprios que deveriam encontrar as respostas, não inventá-las do exterior para dentro. A felicidade ou, ao menos, a esperança de tal estado só pode ser intrínseca.
Os tempos eram os piores para se viver, a Grande Depressão dos anos 1930 era arrasadora, mas os males que aqui se vivem são mais profundos.
As tensões raciais e políticas profundamente enraizadas num Sul (Americano) são expressões dos males que se carregam na alma. Os que sofrem só sabem sofrer, mesmo mudos e inexpressivos. E aquele lugar só os sabe tratar naquele incitamento ao confronto.
O livro de McCullers é intenso, fazendo da sua realidade narrativa um lugar sem julgamentos nem reflexões, mera janela atenta aos pedaços de vida dos quais nos pode nascer a consciência do que foi aquela década e aquele conjunto de pessoas.
A verdade é que o livro é escrito numa linguagem muito simples, herança do que a geração de Hemingway vinha definindo como rumo para o Grande Romance Americano.
Essa simplicidade chega, por vezes, a pontos demasiado primários. Não sei se será culpa da génese do livro ou de um tradução demasiado pálida do texto original, mas há páginas ao longo das quais não se percebe com que justificação a Time colocou este livro na sua lista de 100 romances do século XX.
O retrato poderoso dos desfavorecidos da Grande Depressão acaba desfavorecido pela linguagem. Embora isso não impeça que esta obra permaneça com o leitor.
Cada um dos que sofre - ou se decide a sofrer - em tais estados procura a solução nos locais mais
Neste caso, um mudo, em quem os desejos de humanidade de cada um dos demais se projectam para os satisfazer e iludir do que no mundo se passa - sobretudo se passa contra eles.
Mas nenhum desses que sofrem vê a existência singular desse mudo. Nenhum o compreende senão como aquilo que julga dele.
Daí que o suicídio deste último lhes seja tão estranho e visto com tanto egoísmo. Ele pertencia-lhes, era aquilo que eles queriam e ao suicidar-se deixou-os de novo entregues a si mesmos.
Nenhum deles compreendeu, nem mesmo o mudo que todos julgavam sereno e confiante, que não é pelos outros que se salvam ou que se olvidam dos males que os vitimam.
É por si próprios que deveriam encontrar as respostas, não inventá-las do exterior para dentro. A felicidade ou, ao menos, a esperança de tal estado só pode ser intrínseca.
Os tempos eram os piores para se viver, a Grande Depressão dos anos 1930 era arrasadora, mas os males que aqui se vivem são mais profundos.
As tensões raciais e políticas profundamente enraizadas num Sul (Americano) são expressões dos males que se carregam na alma. Os que sofrem só sabem sofrer, mesmo mudos e inexpressivos. E aquele lugar só os sabe tratar naquele incitamento ao confronto.
O livro de McCullers é intenso, fazendo da sua realidade narrativa um lugar sem julgamentos nem reflexões, mera janela atenta aos pedaços de vida dos quais nos pode nascer a consciência do que foi aquela década e aquele conjunto de pessoas.
A verdade é que o livro é escrito numa linguagem muito simples, herança do que a geração de Hemingway vinha definindo como rumo para o Grande Romance Americano.
Essa simplicidade chega, por vezes, a pontos demasiado primários. Não sei se será culpa da génese do livro ou de um tradução demasiado pálida do texto original, mas há páginas ao longo das quais não se percebe com que justificação a Time colocou este livro na sua lista de 100 romances do século XX.
O retrato poderoso dos desfavorecidos da Grande Depressão acaba desfavorecido pela linguagem. Embora isso não impeça que esta obra permaneça com o leitor.
O Coração é um Caçador Solitário (Carson McCullers)
Editorial Presença
1ª edição - Abril de 2010
360 páginas
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