sábado, 29 de maio de 2010

Perdidos no onirismo

Em cada conto de Henrik Nilsson há uma busca sistemática pelo onirismo que uma pessoa que habita a solidão descobre quando se perde, acidentalmente, no espaço da vida onde se intercepta com o "outro".
O solitário não pretende nem sabe como superar a sua condição, daí que seja apenas quando um evento os leva a encontrarem-se num espaço que lhes é desconhecido que eles percebem o que ainda lhes pode ser dado a descobrir.
Ao perderem contacto com o local, com o hábito ou com a obrigação que têm, as pessoas encontram pequenas maravilhas que a realidade desvenda apenas daqueles que têm já o tempo dado por perdido e então o podem recuperar e apreciar.
A poesia do quotidiano só se dá a quem não sabe como sonhar, por viver isolado em si mesmo.
Mas cada conto de Henrik Nilsson encerra também a estrutura sistemática do desânimo final, para todos aqueles que vivem o recém descoberto onirismo, de ver tudo desaparecer de novo.
A realidade desconhecida que por um momento os albergou volta a expulsá-los. Ninguém se salva pela magia dos outros, por isso o refúgio para os que se perdem da sua solidão é sempre temporário.
Trata-se de uma amostra do que ainda podem resgatar para si próprios se decidirem descerrar o véu da solidão.
Cada conto de Henrik Nilsson é uma aventura de descoberta e perda, miraculosamente passada nos espaços físicos de Portugal olhados por um sueco que sabe como manobrar as palavras e as personagens nesse mesmo espaço.


















Um Piano em Sesimbra (Henrik Nilsson)
Editorial Presença
1ª edição - Janeiro de 2010
128 páginas

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