Aquilo que vai passando por thriller psicológico não é mais do que o velho romance de faca e alguidar levado ao extremo por personagens que perderam qualquer restrição moral.
Do tédio com a relação passam directamente à cogitação sobre o assassinato do amante. De qualquer contrariedade fazem razão para uma vingança.
Por vezes nem basta que os personagens sejam declarados sociopatas, têm de progredir para vilões antológicos, daqueles com planos tão complexos que implicam matar um, incriminar outro e ludibriar os restantes.
O livro tem de ser uma escalada de sangue e maldade que permita que haja uma emoção constantemente atiçada, a surpresa pelo impossível que o autor acaba de materializar.
Só que essa surpresa, muitas vezes, deve-se à incredulidade das escolhas do autor e da falta de qualidade das reviravoltas.
Reviravoltas que já não o são. Pois se a única opção para manter o interesse da história é optar pelo caminho mais extremo, então qualquer leitor tem capacidade de roubar esse papel ao autor e fazer a correcta previsão do que está por vir.
Tudo isto para começar a abordar Aqueles que Merecem Morrer, um título português terrível que sugere precisamente o oposto do original.
O livro até começa bem, roubando (em jeito de homenagem, quer-se acreditar) d'O Desconhecido do Norte Expresso.
O restante é apenas Peter Swanson a provar que não aprendeu nada com Patricia Highsmith ou com Raymond Chandler e Alfred Hitchcock que levaram o livro ao cinema.
À medida que quatro das personagens deste livro decidem que o assassinato é a solução para si (a quinta só não o faz porque é o detective de serviço...) não há qualquer interrogação sobre os actos que tomam.
Por isso quando uma mulher quer assassinar o homem com quem casou porque não gosta que ele ressone (e um acordo pré-nupcial, à mistura) não há hesitações.
Por isso quando ela seduz o empreiteiro da sua casa de praia e o convence de que podem herdar a fortuna do marido, não há hesitações.
Por isso quando o marido, ao se saber traído, desabafa com uma desconhecida num bar de aeroporto que o convence que ele próprio deve matar a mulher porque ela foi cruel, não há hesitações.
Por isso quando essa desconhecida se revela uma assassina experimentada que se apaixonou pelo homem que conheceu naquele bar e que, por isso, vai em busca de vingança, não há hesitações.
Não há hesitações na trama. Há muitas no leitor que encara a coincidência de tão exageradas personalidades se cruzarem no mesmo instante temporal para depois vir a descobrir outras relações implausíveis no passado dos personagens.
Se isso fosse o que maior desconfiança traz, seria o leitor afortunado ainda assim. Há que falar da estrutura narrativa que o autor cria.
Existem cinco personagens, logo, existem cinco pontos de vista que narram capítulos conforme é necessário.
Durante a primeira parte do livro, no entanto, apenas dois pontos de vista são usados, o do marido e da mulher que ele conhece no bar.
Os outros surgem a posteriori porque o autor se enfia num beco sem saída e necessita de continuar a contar a história tendo perdido um dos personagens em cujo ponto de vista dependia.
A opção de assim proceder é tão má que deveria ter levado o autor a reiniciar o livro mas ele preferiu continuar adiante e esbarrar com o muro que lhe cortava o caminho.
O resultado é que no final dessa primeira parte do livro, o autor obriga o personagem a narrar a sua própria morte - e não em directo, mas no passado. Que sugere uma narração imediata dos eventos mas, ainda assim, passado.
Não contente com este absurdo que deveria logo condenar o livro a não ser publicado, o autor repete a façanha na passagem da segunda à terceira parte do livro.
Ora se isto não impediu o livro de se tornar bestseller do Sunday Times, então também não seria a banalidade do estilo de escrita ou a falta de diferenciação entre as vozes dos vários protagonistas a fazê-lo, por isso não se alonga a crítica no que são pecadilhos por comparação.
O restante é apenas Peter Swanson a provar que não aprendeu nada com Patricia Highsmith ou com Raymond Chandler e Alfred Hitchcock que levaram o livro ao cinema.
À medida que quatro das personagens deste livro decidem que o assassinato é a solução para si (a quinta só não o faz porque é o detective de serviço...) não há qualquer interrogação sobre os actos que tomam.
Por isso quando uma mulher quer assassinar o homem com quem casou porque não gosta que ele ressone (e um acordo pré-nupcial, à mistura) não há hesitações.
Por isso quando ela seduz o empreiteiro da sua casa de praia e o convence de que podem herdar a fortuna do marido, não há hesitações.
Por isso quando o marido, ao se saber traído, desabafa com uma desconhecida num bar de aeroporto que o convence que ele próprio deve matar a mulher porque ela foi cruel, não há hesitações.
Por isso quando essa desconhecida se revela uma assassina experimentada que se apaixonou pelo homem que conheceu naquele bar e que, por isso, vai em busca de vingança, não há hesitações.
Não há hesitações na trama. Há muitas no leitor que encara a coincidência de tão exageradas personalidades se cruzarem no mesmo instante temporal para depois vir a descobrir outras relações implausíveis no passado dos personagens.
Se isso fosse o que maior desconfiança traz, seria o leitor afortunado ainda assim. Há que falar da estrutura narrativa que o autor cria.
Existem cinco personagens, logo, existem cinco pontos de vista que narram capítulos conforme é necessário.
Durante a primeira parte do livro, no entanto, apenas dois pontos de vista são usados, o do marido e da mulher que ele conhece no bar.
Os outros surgem a posteriori porque o autor se enfia num beco sem saída e necessita de continuar a contar a história tendo perdido um dos personagens em cujo ponto de vista dependia.
A opção de assim proceder é tão má que deveria ter levado o autor a reiniciar o livro mas ele preferiu continuar adiante e esbarrar com o muro que lhe cortava o caminho.
O resultado é que no final dessa primeira parte do livro, o autor obriga o personagem a narrar a sua própria morte - e não em directo, mas no passado. Que sugere uma narração imediata dos eventos mas, ainda assim, passado.
Não contente com este absurdo que deveria logo condenar o livro a não ser publicado, o autor repete a façanha na passagem da segunda à terceira parte do livro.
Ora se isto não impediu o livro de se tornar bestseller do Sunday Times, então também não seria a banalidade do estilo de escrita ou a falta de diferenciação entre as vozes dos vários protagonistas a fazê-lo, por isso não se alonga a crítica no que são pecadilhos por comparação.
Aqueles Que Merecem Morrer (Peter Swanson)
Editorial Presença
1ª edição - Maio de 2017
280 páginas
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