Este é mais um livro em que uma rapariga está no sítio errado à hora errada, apenas para descobrir que é extraordinária e, contra a sua vontade, tornar-se na peça mais importante de um xadrez político.
Muda o contexto ou variam as circunstâncias. Os autores continuam a replicar um mesmo livro que o público alvo consome sem hesitação ou critério.
Um público alvo que é o de mulheres (mais ou menos perto do momento em que deixaram de ser raparigas) que continuam a clamar por heroínas corajosas e independentes. Mas cuja maturidade deixa algo a desejar!
Uma protagonista - uma heroína, até lhe podemos chamar - escolhida pelo acaso e que desde logo merece ser o pilar da história... e da conciliação das duas castas deste mundo... e da liderança da resistência...
Ela que se deixa influenciar vezes demais pelos ciúmes e que mostra pouca piedade mesmo quando reflecte que a dor dos familiares daqueles em cujo assassinato participará pode ser equiparável à sua.
O livro centra-se na protagonista, afunilando a narrativa de tal forma que o mundo à volta nunca chega a ser definido.
Fá-lo sem uma justificação credível e apenas na expectativa de que ela provará a justeza de ser escolhida no final... da trilogia, claro, pois há que fazer render as páginas.
Gostaria de invocar o seu poder - criar e manipular electricidade - ou a sua existência dividida entre dois mundos para dizer que ela interessa como protagonista. Só que o seu maior feito é o de conseguir encantar dois príncipes irmãos e criar um triângulo amoroso.
O melodrama barato não pode faltar a estes livros e, embora neste caso, o mesmo seja desfeito com uma reviravolta, a autora logo estabelece a aparência de um outro durante o cliffhanger que encaminhará alguns para o segundo livro.
Sobre a reviravolta só se pode dizer que é das mais gastas de toda a ficção e que é perceptível mal o mais jovem dos príncipes - logo, sem acesso ao trono - se mostra favorável à resistência enquanto a sua cruel mãe - segunda mulher do rei e suspeita de ter assassinado a antecessora - não lhes dá descanso.
Para que quer este tipo o trono para além de perpetuar o status quo não se sabe muito bem já que a caracterização não é o forte da autora.
Nem a descrição, que vai sempre longe demais. Uma adjectivação mais ou um elemento descritivo extra mostram que a autora se esforça em demasia ao invés de confiar na economia e na capacidade dos seus leitores. Parece o texto de um estudante a querer dar melhor imagem do que escreve e a parecer que está a embelezar o vazio das suas ideias.
Ou sequer a construção de mundos, uma amálgama de Época Medieval, Revolução Industrial e salpicos da Idade da Informação. Com poderes concedidos pela genética.
Castelos e famílias feudais. Opressão esclavagista sobre os trabalhadores. Vigilância e manipulação mediática.
Mais exactamente, indefinição do tempo em que a história se passa para permitir que tudo possa lá ser incluído sem preocupações de consistência.
Tudo com lamirés rápidos para não complicar, porque num país em guerra há cerca de cem anos, só a recém aparecida Resistência (em modo terrorista) causa problemas e tudo se passa na corte real.
Qual é então o forte da autora? Creio que é dar a aparência de referenciar as mais famosas sagas de sucesso e servir algo que iludirá alguns como tratando-se de algo novo.
Usar um esquema narrativo de distopia ao jeito de Os Jogos da Fome, acrescentar-lhe a ideia de transgressão nas relações (altamente suavizadas) das famílias nobres de A Guerra dos Tronos e diferenciar com os poderes e o receio da sua disseminação de X-Men.
Corte e colagem! E a autora é boa o suficiente nos trabalhos manuais para ser a estrela por uns tempos, possivelmente vender os direitos do livro a um estúdio de Hollywood e depois reformar-se quando lhe exigirem uma ideia original para um novo livro.
Rainha Vermelha (Victoria Aveyard)
Saída de Emergência
1ª edição - Setembro de 2015
352 páginas
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