Este livro é uma revelação do potencial de Pedro Vieira e, na mesma medida, do seu desencontro com a matéria ficcional que lhe será mais apropriada.
Há um estilo já definido no trabalho de Pedro Vieira, um em que ele se aproxima da metalinguagem.
O autor imiscui-se na vida das suas criaturas, falando do universo que está para lá delas e procurando o jogo referencial que permita a expressão do seu processo e até algumas graças por conta da sua intervenção omnipotente.
Tudo isto funciona melhor em relatos breves e, por isso, os capítulos assemelham-se muito a crónicas em que a ficção e a realidade se misturam em serviço da arte de quem escreve.
Os personagens acabam mal servidas, incapazes de evoluir porque não há uma visão estrutural para o desenrolar do livro,
Há a história de um romantismo trágico que traz para os subúrbios de Lisboa uma chama da grandiosidade sentimental Russa.
As histórias individuais no seio da história do livro tentam convocar tudo o que caracteriza o Portugal dos anos 1980 até hoje, numa mistura do pior que, inevitavelmente, copiámos do resto do mundo e do que já era intrinsecamente nosso e nunca mudará, para mal dos nossos pecad(ilh)os.
Só que a tentativa de retrato do subúrbio para estabelecer uma ideia do Portugal das últimas décadas acaba por levar a que os episódios prevaleçam sobre a coerência humana dentro do romance.
Ou talvez seja das ideias empoeiradas essa falta de dimensão dos personagens, tornados em arquétipos porque a grandiosidade romanesca não consegue resgatar nada do que está no interior de lugares-comuns sobre os subúrbios.
Poderá ser uma conclusão errada, mas os subúrbios não parecem ser o domínio de Pedro Vieira, que parece antes conhecê-los de ideias repetidas ao longo dos anos.
As histórias que ele ouviu de lá originárias acabaram por criar um cenário mítico de falhanço onde ele acreditou poder reinterpretar a Literatura e a Portucalidade.
A tentativa pode bem ser meritória mas não foi aqui que o autor o conseguiu.
Como treino para o seu estilo e uma aproximação a um trabalho de fôlego longo pode, pelo contrário, ter sido um sucesso.
Última Paragem, Massamá (Pedro Vieira)
Quetzal Editores
Sem indicação da edição - Fevereiro de 2011
208 páginas
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