sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A progressão que tarda

O segundo livro desta saga permite uma análise menos "séria" do que o primeiro, que levantava dúvidas pertinentes acerca do negócio dos livros.
Sabendo que essas não serão respondidas tão cedo e que, provavelmente, ninguém mais se preocupará com elas, passo a ler um policial escapista como já deveria ter conseguido fazer com o primeiro.
A colagem aos cenários de filmes continua, desta vez com a máfia e um justiceiro envolvidos numa trama em que o Passado vai apanhar e complicar o Presente.
Uma história com uma grande dose de "espectáculo" mas que se pode permitir ser menos espampanante que a do primeiro tomo, agora que o público está conquistado - na medida do possível e sempre condicionado pela opinião a cada novo livro.
Uma história, igualmente, melhor escrita. Não só com uma melhoria no que toca aos diálogos, que eram um dos problemas que mais ficavam na memória no livro anterior, mas sobretudo no domínio da trama.
Bem estruturado, o livro dá mais informação ao leitor do que aos seus protagonistas, permitindo que se acompanhe o progresso da investigação a partir de uma posição de avaliação.
No entanto a antecipação não é total e o livro guarda ainda surpresas apontadas tanto aos seus protagonistas como ao leitor antes de passar da investigação ao thriller propriamente dito - com perseguições, com cenas de confronto, com tiroteios.
Mesmo assim há que assinalar o grande defeito deste livro: a sua componente romântica que continua a arrastar-se e a tomar demasiado tempo aos protagonistas, sobretudo o masculino.
O seu interesse pela parceira continua no que é um quadrado amoroso em que ela está casada - mas o marido está à beira de a perder para um vício de analgésicos - e ele próprio tem uma namorada - psicóloga da polícia e o par ideal para ele.
O comportamento adolescente dele na sua vida privada impede que a sua personagem seja levada tão a sério quanto deveria.
Deixar sempre em suspenso a hipótese dele romper com o comportamento profissional para reacender uma velha paixão nunca permitirá que ele se transforme num memorável polícia ficcional.
Da maneira como as relações pessoais lhes ocupam tanto a mente, pelo menos seria interessante ver isso começar a tornar-se num empecilho ao trabalho, levantando riscos que tornassem a investigação mais periclitante.
Por enquanto - e suspeito que indefinidamente - é apenas um (quase) romance com algo de patético.
Não é por esse "romancezito de escritório" que continuaremos a seguir estas personagens. Terá de ser por elas próprias, pelas suas personalidades, pelo seu profissionalismo e pela sua eficácia.
Como a relação dos dois detectives principais está inquinada deste o primeiro dos volumes e seria necessário anular a parte romântica ou ousar avançar com ela o mais depressa possível para que depois eles pudessem progredir como personagens e como dupla.
Pois se os casos já começam a avançar em qualidade, esta grilhete impedirá que a qualidade geral do livro progrida até onde promete poder chegar.


NYPD Red 2: À Margem da Lei (James Patterson e Marshall Karp)
Topseller
1ª edição - Abril de 2013
336 páginas

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