Por vezes há frases que se querem roubar para se ter uma brevidade eloquente capaz de dizer sem demora aquilo que acabámos por concluir da mesma maneira. É o caso da citação retirada do Sunday Times para a capa deste livro.
Como não posso fazer tal coisa vou tentar articular da melhor forma possível o que este livro representa.
Colm Tóibin inverte o seu delicioso Brooklyn em que escrevera longamente sobre uma vida isolada da realidade.
Aqui escreve de forma breve sobre um tema que se repercute no mundo – ainda que se molde com as características típicas do país natal do autor – e do qual vão crescendo vidas estrondosas.
Vidas que se definem a partir de eventos que são ficcionalmente interessantes mas que surgem perigosamente perto da exploração obsessiva da calamidade – alguns dos temas poderiam fazer capa de tablóides, todos eles fariam as delícias das comentadoras de bairro.
Cóibin não esgravata nesses eventos, parte deles em direcção aos elementos familiares (ou não se chamasse o livro Mães e Filhos) que rodeiam o padre acusado de pedofilia ou o ladrão capaz de deitar fogo a um Rembrant.
As nuances com que ele atrai o conforto do leitor acabam negadas por uma evidência que ele repete conto após conto: a individualidade prevalece sobre todas as relações.
Seja porque a solidão se torna mais confortável do que o amor materno, seja porque as aparências se tornam mais importantes do que a lealdade com o filho acossado pelo medo ou seja porque os sonhos que se têm para a família a tornam submissa à noção individual do que será melhor para todos sem nunca considerar as ânsias de cada membro.
Mães e filhos – entre outras pequenas relações de importância maior – nunca se poderão entender porque vivem todos para o interior de si mesmos criando à sua volta um retrato real do que são, fechado à influência alheia.
Quando Cóibin descreve esses pequenos mundos nascidos de cada pessoa acaba por retratar a Irlanda tal como a imaginaríamos se ela não existisse já tão bem descrita na literatura.
A individualidade molda as pequenas realidades da Irlanda que se vão somando ao longo dos contos para dar origem a um retrato global.
Uma Irlanda sem tempo definido – embora detalhes de cada conto possam ajudar a reduzir a algumas décadas o seu friso temporal – que para uns estará a ser prolongada para lá do seu tempo e, para outros, deveria ser preservada numa orgulhosa solidão.
Um país que se tornou num limbo ainda mais propício aos desejos solitários das existências que têm de ser vividas em comum (mas dificilmente em comunidade).
Como leitor obcecado pela difícil arte do conto, devo dizer que Tóibin a domina, pequenos textos de grandes vidas e maiores desamparados. Fascinantes, se ainda não o tinha escrito!
Mães e Filhos (Colm Tóibín)
Bertrand Editora
Sem indicação da edição - Abril de 2011
páginas
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