quarta-feira, 30 de março de 2011

A voz das mulheres

Aurora Boreal é um thriller todo feminino. Por ter sido escrito por uma mulher, por ser protagonizado por outras três - a suspeita, a polícia e a investigadora/advogada - e por ser demonstrativo da capacidade feminina num ambiente negro e masculinizado.
Um ambiente que não é apenas o do policial, mas também o da religião organizada e até mesmo a das firmas de advocacia.
Instituições tipicamente patriarcais - como quase todas as instituições se pensarmos bem no assunto - das quais os homens ficam aqui secundarizados.
Não só secundarizados mas ultrapassados na coragem e na determinação por mulheres que aparecem grávidas, dominadas pelo pai ou com o cuidado de crianças a seu cargo. Três estados em que a mulher deveria ser menos forte ou, no mínimo, menos ousada, mas que aqui é quase uma motivação extra.
Motivação para encontrar mais força, para ser mais astuta e para se revelar mais mulher.
Apesar disto, a defesa do estatuto da mulher não é um processo puro, muito menos puritano.
Chegando ao final do livro a verdade entra em acção e revela um outro aspecto do carácter feminino, dominante por ser falsamente submissa.
Não é um choque contra o que veio antes, é o aviso para não se ser ingénuo na leitura.
E, logo depois, mesmo mesmo a fechar, a ironia dá um toque verdadeiramente negro ao que foi escrito. É o alívio porque de entre as mulheres finalmente surge um homem que não terá de sofrer e vingar como elas.
Tudo isto num policial muito interessante, o essencial do livro está claro.


















Aurora Boreal (Åsa Larsson)
Planeta Manuscrito
1ª edição - Setembro de 2010
328 páginas

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