De entre as colaborações de James Patterson com outros escritores, este parece ser aquele em que o parceiro conseguiu contaminar o livro com uma personalidade própria, tornando-se num verdadeiro aliado e não numa escritor completista.
A Amante marca uma variação ao estilo de livros que o autor produz, o que evita que se lhes assemelhe em demasia, pelo que isso deve assinalar-se desde logo.
Há intricada conspiração que começa com um homem a ver o alvo da sua paixão a tombar da janela de casa e termina com encobrimentos no interior da Casa Branca.
Pelo meio há trocas de identidade, o envolvimento das agências governamentais, escândalos sexuais, chantagens políticas e um plano para manobrar os Estados Unidos da América num ressurgimento da divisão mundial em superpotências.
Para que o exagero da trama sempre condensada na individualidade do protagonista se afaste do que é típico de Patterson conta que o livro não seja apenas um entretenimento descomplexado mas que se leve a sua história com uma distanciada ironia.
Afinal, acrescenta-lhe uma dose de comédia do absurdo que vem do cerne do seu protagonista.
Um sujeito que passa tanto tempo a ser um eficaz repórter como a deixar-se absorver pela informação inútil acumulada na sua mente.
O facto dessa característica lhe advir de um duvidoso passado que envolve a passagem por instituições de saúde mental acaba por tornar a leitura adicionalmente interessante pois não há um heróismo simplista e ridículo.
A moralidade é duvidosa de forma transversal, como se lê desde o início quando o protagonista invade a casa da sua paixão para lá colocar cãmaras escondidas... a pedido dela.
O pessoal e o político entram em rota de colisão do jornalista online e correspondente da Casa Branca que se apresenta sempre ao estilo dos heróis do cinema.
Estilo que faz um bom par com as muitas referências cinematográficas que ele cita - que no início são algo irritantes mas depois se tornam apropriadas visto que não só contribuem para o humor intrínseco ao personagem como reforçam a ideia da construção da trama com a roupagem e o ritmo de um filme.
Afinal a referência mais óbvia é Absolut Power, filme de Clint Eastwood em que ele próprio é um ladrão que testemunha o assasinato da amante do Presidente.
Para finalizar há que dizer que a história acerca de Franklin Delano Roosevelt - seja verdadeira ou apenas um mito - que este livro actualiza e complexifica era boa demais para não ser(vir à) ficção. Também por aí este livro faz sentido com divertida irreverência.
A Amante (James Patterson e David Ellis)
Topseller
1ª edição - Junho de 2014
352 páginas
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