segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Mais (mas melhor) do mesmo

James Patterson é cada vez mais um nome de marca que dá garantias de venda mesmo de livros que só parcialmente terão sido escritos por ele.
É de crer que isso se fique a dever a um excesso de ideias que ele não tem tempo/vagar/disciplina (riscar o que cada um considere menos exacto) de concretizar por si só.
Em Invisível temos novamente uma ideia cheia de potencial: um serial killer cujo método de actuação de escolha é a simulação de incêndios acidentais para enconbrir pistas, perseguido por uma analista do FBI cujo discernimento pode estar comprometido quando o seu interesse nasceu da morte da sua própria irmão.
Partindo do ponto em que a analista ainda tem de provar que há um caso a investigar, o livro usa bem o jogo de egos em que assenta este género de perseguição.
Um ego crescente - e em risco de estoirar - na sua habilidade para iludir os perseguidores e um ego a lutar por se manter intacto contra o acumular de derrotas.
O desenvolvimento das personalidades das figuras nos dois campos deste confronto aproveita o espaço de dúvida inerente ao verdadeiro conhecimento que há de parte a parte com a criação de um conjunto de mensagens ditadas pelo serial killer que trazem informação adicional ao leitor, aumentando o interesse numa caça que se sabe estar menos perto da sua conclusão do que pareceria.
Curiosamente essas mensagens acabarão por dar corpo a uma reviravolta de contornos exagerados - ainda que no contexto destes livro não funcione mal - que parece provar a premissa de que Patterson continua a ser o pai destes livros.
Pela maneira de estruturar a história mantendo a informação essencial para si próprio em nome de um efeito surpresa final que surge num pedaço de história que parece à parte do livro até aí. Enquanto que a informação periféica enche capítulos aproximando o livro do romance e afastando-o do thriller que, muito pragmaticamente, deveria ser em exclusivo.
Que a vida emocional dos dois polícias de serviço ocupe mais tempo do que o desenvolvimento do assassino é paradigmático de que Patterson continua a ser o principal autor destas histórias. Afinal estes dois polícias são um antigo casal sob tensão romântica ao trabalharem juntos por um objectivo maior que ultrapassa as suas desavenças.
Esta parece ser a única abordagem dramática (?) que o autor consegue descortinar para as relações entre elementos de diferentes géneros dentro das forças policiais, como a série NYPD Red - a par dos volumes de Alex Cross - tem deixado evidente.
Os livros de James Patterson acabam por se englobar numa redoma de análise na qual a sua classificação (a haver uma...) cai numa escala auto-referencial dos que resultaram melhor ou pior no conjunto de livros - cada vez mais similares entre si, varie o tema o quanto variar - que dele se leram nos últimos tempos.
Este cai para o lado da satisfação depois de se ter experimentado a frustação de um Eu, Alex Cross.
O grande trunfo do escritor está no facto da percepção dos seus livros ficar sempre num patamar intermédio acima do razoável no qual algumas boas ideias vão - por mais um pouco - valendo mais do que essa uniformização do seu trabalho.


Invisível (James Patterson e David Ellis)
Topseller
1ª edição - Julho de 2014
352 páginas

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