Décimo sexto volume da saga de Alex Cross e há uma conclusão a tirar, mesmo sem ter lido todos os volumes para trás: isto já não é um policial.
Alex Cross já não é trabalhado aqui como o grande detective que, noutros volumes, se sente que ele terá sido.
Fisicamente e mentalmente imponente, Alex Cross faz cada vez menos trabalho, passando mais tempo a correr de arma em punho atrás de informações que lhe são dadas em vez de ele ter de as procurar.
Claro que há uma grande trama sobre como um político importante tem matado mulheres e os seus corpos são desfeitos num triturador de madeira.
Só que, tirando um final curioso em que o "ao serviço da nação" toma proporções interessantes, a trama funciona numa espécie de visão genérica de thriller de Thomas Harris com promessas de horrores e personagens arrebatadoras por todos os motivos (humanamente) errados.
Nem os horrores nem as personagens são explorados, substituídos por um avanço constantes da acção.
Aquilo em que James Patterson se foca a propósito da sua personagem é a família, numa exploração cada vez mais sentimental que parece ter invadido esta saga a partir de outras das suas obras mais recentes.
Desde logo ao colocar como primeira vítima uma sobrinha de Alex Cross, personagem que não chegamos a conhecer bem, mas que é capaz de colocar em polvorosa o detective que irá lutar mais vincadamente contra o secretismo do FBI e da NSA.
Essa personagem poderia ter sido uma mulher anónima pois na verdade o efeito emocional que ela traria a Cross seria, como é, sempre suplantado pelo causado pela ameaça de morte eminente que paira sobre a avó do protagonista.
A dirupção na família é o melhor componente deste livro e o que deveria ser um mecanismo secundário acaba por disputar o protagonismo com o restante.
Na verdade, ganha mesmo esse protagonismo porque é aquilo em que as personagens melhor são aproveitadas.
O que deveria acontecer é que a tragédia familiar deveria afectar os poderes de investigação de Alex Cross, mas como este não está a usá-los o drama acaba por funcionar por si só.
A velha senhora sobrevive ainda mais uns volumes pois parece ser o pólo oposto do detective nos momentos das discussões.
É duvidoso que ela alguma vez venha a morrer mas devia. Sobretudo neste volume, onde a sua morte teria adicionado ao drama do detective e obrigado-o a transformar-se o que daria novas possibilidades à série.
Está necessitada de se recentrar em casos que aproveitem a totalidade das capacidades do detective permitindo-lhe alguma amplitude de decisões no que concerne à família. Para o bem e para o mal, a avó dele continua a ser uma âncora para Cross.
Não deixa de ser um daqueles livros cujos capítulos curtos funcionam muito bem enquanto se viaja em transportes públicos.
Deveria ser mais do que isso mas James Patterson parece estar demasiado mecanizado num processo de criação que não lhe permite fazer mudanças importantes.
Eu, Alex Cross (James Patterson)
Topseller
1ª edição - Outubro de 2014
384 páginas
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