segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O progresso

Este livro é aquilo que se exige de uma sequela, não só por ser melhor que o livro do qual provém, mas por dar origem a uma escalada dos elementos mais interessantes d'O Jogo.
Anders de la Motte não tentou revirar a situação do seu protagonista de forma a que ele voltasse ao ponto de partida e estivesse envolvido em mais uma saga de acções irreflectidas e perigosas com transmissão directa online.
A questão do egocentrismo individualista potenciado pela internet fica de lado para que o autor possa evidenciar mais fortemente que o seu verdadeiro interesse está no domínio que é possível exercer sobre o indivíduo através dos novos modelos de comunicação.
Um domínio que era mais imediato no primeiro livro e que neste segundo livro tem traços de realismo.
Realismo corporativo que já sabemos ser verdade, até num pequeno país como o nosso, o da manipulação da opinião pública.
Orientação das "massas", criação artificial de movimentos, desvio de atenção para dar oportunidade a que decisões verdadeiramente importantes se mantenham secretas.
Muito se aprende sobre as dificuldades inerentes a um trabalho deste tipo quando se quer que seja bem feito e com a amplitude que a internet exige.
Longe de um teor didáctico, de la Motte usa as tácticas mais banais pelas quais se executam essas intenções para criar o sentido de urgência que é necessáro à leitura.
A escrita em fóruns e blogues e a criação de múltiplas identidades internéticas ganham emoção na visão que o protagonista tem delas e funcionam como cenas da máxima emoção.
Isto não quer dizer que o autor tenha deixado de lado as grandes cenas que se espera de um thriller.
Na verdade ele continua a ir a alguns momentos de exagero em que o seu protagonista se coloca a par dos heróis de acção dos tempos modernos.
Só que tais cenas deixaram de ser parte uma parte tão significativa do livro - como foram com o primeiro - para passarem a estar ao serviço de uma construção mais laboriosa e progressiva.
Só a limitação da sua estrutura se mantém, com os pontos de vista intercalados a levarem-no a criar, por demasiadas vezes, uma coincidência das situações que HP e a irmã vivem, propositadamente confundíveis entre si pela forma como a escrita é trabalhada, sem que verdadeira tensão nasça desse efeito.
O salto que falta a Anders de la Motte para ser um escritor a seguir com total atenção não será dado com Bolha, o próximo e final tomo desta história, mas confio que um passo mais adiante no tema garantirá uma leitura intensa.
Afinal tudo começou com um jogo e já chegou ao ponto da conspiração política. Onde acabará interessa aos leitores.


Vibração (Anders de la Motte)
Bertrand Editora
1ª edição - Maio de 2014
400 páginas

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