Este é um livro que lida com o grande mistério do conhecimento, habilmente representado pela dúvida sobre o verdadeiro destino da Biblioteca de Alexandria.
Dos aspectos a abordar neste livro, o mais destacado é a defesa do conhecimento feita pelo seu autor, um académico que aproveita para explanar as muitas histórias da História ao longo do livro com declarada capacidade de as manter interessantes e enquadradas.
O facto da sua heroína ser, tal como ele, uma académica sobre quem cai a responsabilidade de preservar o conhecimento parece uma inevitabilidade e permite que este thriller se desenrole acima de tudo pela mente.
Claro que o exagero está sempre subjacente a este tipo de personagens, saídas de uma piscina genética onde o raciocínio lógico de Sherlock Holmes foi potenciado até um ponto de impossível brilhantismo.
Mas a forma que assume o jogo de pistas neste caso é assaz interessante, pois não envolve apenas enigmas deixados ao longo de um percurso exótico, acrescenta-lhe a decifração do condicionamento a que a protagonista foi sujeita por um seu colega, entretanto morto. Um verdadeiro jogo Pavloviano entre altas inteligências.
Estes pontos de maior interesse do livro acabam por ir disfarçando as fraquezas que A. M. Dean revela neste seu primeiro livro.
Afinal, sendo um académico e como o próprio tema denuncia, o seu interesse pelo conhecimento torna-o um pouco avsso ao entendimento da desenvoltura humana.
São muitos os diálogos que acabam por servir o propósitos expositivos das temáticas que o autor aborda. Os restantes mostram-se sempre constritos por uma falta de fluência natural(ista).
As personagens, como os diálogo, estão muitas vezes ao serviço de revelações - históricas e da trama - e não são desenvolvidas em conformidade com a importância que assumem.
Felizmente que entre o par mais importante do livro - a protagonista e o mestre que lhe passou a responsabilidade pelo conhecimento no Mundo - esses detalhes de caracterização são completados no processo da acção, ajudando a manter o interesse.
Apesar dele ser morto no início do livro, o homem que lhe passa a ela a responsabilidade vai-se revelando nas memórias do que fez nos poucos momentos em que se cruzaram, revelando um planeamento preciso e uma certa dose de mistério.
Já a protagonista, Emily, revela-se uma mulher determinada e sedenta de viver uma aventura que a leve para lá da limitação da teoria em que sempre trabalhou e do bom senso que a parece conter.
Perante a "interacção" entre estes dois personagens, a trama paralela à da dominação do conhecimento - de dominação do poder mundial - poderia ter sido mais comedida.
Um certo risco de irrealismo - sobretudo quando a salvação terá de ficar nas mãos de uma mulher recém integrada na ordem secreta dos que defendem a Biblioteca de Alexandria - leva a leitura ao limite do aceitável.
O balanço é a de um desequilíbrio com potencial futuro. E se o leitor nunca pousa o livro é porque ele próprio está seduzido pela aventura que o representa, sedento acumulador de conhecimento que se vê justificado e elevado à condição de aventureiro.
O conhecimento que o leitor obtém aqui, ainda para mais, versa sobre o seu tema favorito: livros e bibliotecas. Fica difícil resistir, convenhamos.
O Bibliotecário (A. M. Dean)
Clube do Autor
1ª edição - Março de 2014
404 páginas
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