sábado, 8 de fevereiro de 2014

Quem escreve?

Chamar para protagonistas um par de detectives da brigada especial dedicada a crimes cujas vítimas têm grande exposição púbica é uma ideia com potencial para fazer um comentário à sociedade contemporânea e as suas obsessões.
Claro que isso é uma expectativa própria para livros que não sejam os de James Patterson, cujas intenções são as de proporcionar a leitura de thrillers de acção intensa a ritmo rápido.
Isso é cumprido, como quase sempre acontece com o que o autor publica, mesmo se no final a leitura se assemelhe muito a uma "tarefa cumprida": não é um livro mal escrito mas é apenas mais um entre a produção do autor; não é um livro de que se desgoste, mas no final sobra-nos alguma indiferença por ele.
Para servir essa dose de acção e ritmo, Patterson aproximou-se desta vez das regras do cinema, ou não fosse o nome do seu parceiro de escrita o de alguém que já escreveu argumentos e que mantém uma série policial passada em Los Angeles.
Nesse sentido, Patterson coloca Hollywood em Nova Iorque e cria uma investigação em que o vilão se rege pelas regras de um argumento que ele escreveu na sua cabeça para provar a todos que está ao nível daqueles que o rejeitam sistematicamente.
Esta ideia não é nova e não é levada a bom termo (veja-se aqui um exemplo da mesma e melhor usada) por um conjunto de motivos que são importantes de assinalar - e que, talvez não por acaso, se assemelham aos mesmos males que se assinalam nos argumentos de várias grandes produções cinematográficas actuais.
Identifica-se desde logo uma inverosimilhança pelo exagero de habilidades dadas ao vilão. Não só ele é um mestre do disfarce como tem conhecimentos de explosivos e dos meandros do funcionamento da cobertura televisiva de eventos. Tudo vindo, somente, de anos a ser usado como figurante.
Depois é apercebido o vazio das personagens que se comportam na medida exacta daquilo que a história precisa e nada mais. O caso de como a parceira do vilão se conduz até à sua própria morte o exemplo acabado de como não chegam a construir-lhe uma personalidade pois a sua utilidade é limitada e breve.
Finalmente, é notório que o livro tem como objectivo maior lançar as bases de uma parceria com tanto de romântica como de profissional - o detective recebe como parceira temporária (para se tornar definitiva) uma antiga namorada por quem nunca deixou de ter sentimentos - e não criar um verdadeiro perfil de departamento policial que lida com os extremos da popularidade moderna e da ilusória familiaridade.
Estes aspectos denotam uma menor falta de cuidado de Patterson com os seus livros que, não desmerecendo a sua assinatura no quanto a sua leitura possa ser chamativa, não parecem justificar o enorme sucesso que outrora garantiu para si.
Aqui se levantam questões de outra ordem quanto aos livros em que o nome de James Patterson surge a par de um outro autor.
Se estruturalmente - capítulos sempre breves, escrita na primeira pessoa para o protagonista e na terceira pessoa para os restantes, história auto-conclusiva sempre com uma abertura a sequelas - o esquema do livro é o que Patterson tornou reconhecível como seu, o uso das palavras denota grandes diferenças de livro para livro.
Forma-se a ideia de que Patterson fornece as ideias e o cunho vendável do seu nome a cada livro, mas depois esse fica a cargo do co-autor.
Se compararmos os diálogos deste livro com outros assinados por Patterson, temos aqui os menos inspirados (num ou noutro momento aproximando-se do ridículo) enquanto que a sucessão de cada acto está, provavelmente, entre as tratadas com mais vigor narrativo.
Se antigamente se falava nos "negros" como essenciais para que o miolo do livro se encorpasse, hoje esses "negros" podem ter começado a exigir que o seu nome não fique apagado na obra final.
Só que, ao invés de melhorarem os pontos que eram as fraquezas do autor principal, podem estar igualmente a adicionar-lhe as suas.
Fossem mais significativas as obras em que tal está em causa e valeria a pena investigar como funcionam realmente estas simbioses/aproveitamentos.


NYPD Red (James Patterson e Marshall Karp)
Topseller
1ª edição - Agosto de 2013
336 páginas

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