Departamento 19 é uma história de acção protagonizada por um adolescente e que usa os vampiros como contexto e chamariz.
Apesar de ser uma leitura mais bem classificada como livro para "jovens adultos" do que romance de vampiros, não deixa de ter características interessantes como material que referencia outras obras sobre vampiros, embora maioritariamente se tente remeter a uma linha directa dos mitos que têm origem na obra de Bram Stoker.
As referências estão no estilo de história contada e das próprias personagens, podendo-se dizer sem medo que são cinematográficas.
O autor não as nega, trata mesmo de as assumir e celebrar nos detalhes, como nos apelidos de algumas das suas personagens: Carpenter e Browning.
Tod Browning tendo sido quem definiu o modelo cinematográfico (anglo-saxónico, para ser mais preciso) definitivo para Drácula no cinema; e John Carpenter quem fez dos vampiros matéria de Western num estilo de herói solitário que aqui tenta.
Na construção das história há muitas outras referências a vir ao de cima, talvez algumas delas casuais (a relação entre o protagonista e a vampira remete para Låt den rätte komma in) mas quase sempre associadas a um meio visual, seja a televisão (uma sociedade vampírica ao estilo de True Blood) ou a banda desenhada (um exército que poderia pertencer às páginas de Blade).
Há um certo gosto em ser levado por esse contínuo de referências, tentando posicionar este livro num universo ficcional individual construído ao longo dos anos e esperar que, pelo contrário, quem por aqui comece a sua incursão no mundo dos vampiros consiga recuar até à obra de Bram Stoker.
O que este enumerar de referências não deixa transparecer é que Will Hill conseguiu criar um universo sólido, ao estilo de uma série de acção mas com espaço para capítulos muito apelativos que levam a história até ao passado e que são os mais bem escritos do livro.
Nesses capítulos o autor chega ao ponto de colocar em cena Scott Fitzgerald ou Aleister Crowley, naquilo que é o seu verdadeiro risco e que repete de formas similares ao longo do livro.
Risco porque, mais do que personagens reais, são as personagens ficcionais de Bram Stoker que ele traz para novas histórias - e que tomam Drácula como uma referência livresca real escrita como um manual de tácticas de combate - reinventando-lhes o percurso ou criando-lhes descendência.
De Bram Stoker mas, igualmente, de Mary Shelley, com a Criatura a ser uma personagem fulcral nesta história mas, da mesma forma, bastante diferente do que era no texto original.
Há algo desta estratégia de reunir personagens de outros livros e de com elas criar algo de novo que me recorda a estratégia de The League of Extraordinary Gentlemen.
Claro que os talentos do autor não podem ser comparados com o génio de Alan Moore, mas a verdade é que ele nem chega a colocar-se num patamar para tal.
Ele diverte-se com esse jogo de apropriação das personagens alheias mas fá-lo mais em nome da criação de uma linha mitológica mais simples de compreender ou de um cenário mais apelativo.
A pena que me fica é que o autor tenha assegurado que os riscos que corre sejam aplacados por ficarem contidos por uma história que tem a acção - e as vendas a um público
Tivesse ele aprofundado as possibilidades de relacionar Aleister Crowley com a existência de vampiros, mesmo sujeitando-se a leituras muito mais críticas, e teria conseguido um livro para um público com outro grau de exugência e de referências.
Departamento 19 (Will Hill)
Topseller
1ª edição - Junho de 2013
416 páginas
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