Há duas personagens que têm de se deslocar para Roma e a sua história é, de alguma forma, o condutor do livro.
Não passa por eles o objectivo maior, o de escrever a História de Roma no início do século XVI, onde os pecados se multiplicavam e geravam atracção e repúdio na mesma escala, quer aos habitantes de então quer aos leitores de hoje.
Equilibrar a ligação entre ambos as narrações em duzentas páginas apenas parece uma tarefa razoavelmente simples quando outros romances históricos estendem as suas linhas narrativas por muito mais anos e muitas mais personagens.
A autora contraria essa possibilidade pela maneira como escreve, algo que noutras circunstâncias - talvez as revistas de História com que colabora - seria motivo de elogio mas não neste livro.
A sua correcção gramatical enche os parágrafos de quebras de leitura forçadas por um excesso de vírgulas e complementos. Tal não lhe permite libertar-se como escritora e ser uma artesã da narração: usar a Língua como matéria que lhe serve e não subordinar-se às suas regras.
Piora tudo porque prolonga os parágrafos em demasia, digressionando pela História de Roma a partir do início do relato das acções dos protaonistas
Ao fim de um parágrafo - o que, no caso, é exactamente o mesmo que dizer de uma página - podemos ter sentido curiosidade pelos detalhes que a autora relata mas perdemos contacto com os traços da acção. Ou focamo-nos na acção e não há atenção que resista ao arco histórico que se prolonga pelo meio.
É o próprio texto a criar uma sensação de divisão entre a história e a História: fios de duas cores enrolados num único novelo,
Parecem juntar-se mas continuam a ser diferenciados entre si. No novelo ou se submetem à forma em que estão presos ou então tudo se desfaz, como aqui.
De tal maneira isto acontece que o livro vai cada vez mais depressa perdendo o seu interesse e lê-se para tentar chegar a uma resolução.
Logo depois, com o livro fechado, tudo se dissipa.
Os factos de interesse perderam-se porque não estão estruturados num contexto mais lato e sistematizado.
As personagens nunca chegaram a materializar-se perante o leitor e as suas acções perdem-se.
O teor do livro, louvando o misticismo como causa subjacente da queda - mais uma, claro - eminente de Roma, pouco mais é do que fumo que se afasta com um movimento rápido.
A Queda da Babilónia (Montserrat Rico Góngora)
Planeta Manuscrito
1ª edição - Maio de 2012
216 páginas
Sem comentários:
Enviar um comentário